Quinta-feira, 31 de outubro
20h
Jaguaribara, a Cidade Submersa (2023), de Henrique Peixoto e Genusa Peixoto
Duração: 06’52”
Carta sonora narrada por Genusa Peixoto, dedicada à sua terra natal. Utilizando toda sua nostalgia, a narradora homenageia pessoas e revisita memórias da sua vivência na pacata cidade do interior do Ceará, que foi submersa pelas águas do Açude Castanhão, o maior reservatório de água doce do estado.
Densidade 21,5 (2024), de Guido Stolfi, sobre obra de Edgard Varèse
Duração: 03’45”
Transcrição de solo de flauta para o primeiro sintetizador digital brasileiro com controle por computador, construído em 1975 na Escola Politécnica da USP. A obra é assinada por Guido Stolfi, professor de engenharia na USP, que construiu o primeiro sintetizador digital brasileiro em 1975, e pelo compositor francês Edgard Varèse, falecido em 1965, um dos pioneiros da música eletroacústica.
Pedalando na memória, de Miguel Meléndez
Duração: 10’38”
As bicicletas brancas, também conhecidas como “Ghost Bikes" são monumentos ou antimonumentos postos em lugares onde acontecem acidentes fatais envolvendo ciclistas. Neste pequeno documentário sonoro, Miguel Meléndez realizou gravações de campo nesses espaços e trajetos, a fim de refletir a respeito da memória e do valor da vida daqueles que defendem uma mobilidade alternativa. A peça reúne fragmentos gravados nas manifestações-pedaladas e homenageia as seguintes vítimas de trânsito: Liliana Castillo (falecida em 25/05/22, na Cidade de México), Eduardo Lobato (05/04/23, em Belo Horizonte) e Fabrício Almeida (19/04/24, em Belo Horizonte).
Afinação para artefatos sonoros (2024), de Lucas Damazio
Duração: 02’45”
Realizada pelo artista sonoro e construtor de instrumentos musicais Lucas Damazio, a obra remete ao processo de experimentação na construção de instrumentos musicais, no qual o diálogo permanente das tensões dos materiais gera afinações específicas.
Zé Celso: 143 dias depois, uma visita ao teatro oficina (2020), de Luciano Victor Barros Maluly, Daniel Azevedo Muñoz, Lívia Batista Magalhaes, Diogo Bachega Paiva, Bianca Aguiar Camatta, João Pedro Barreto Fontes, Sarah Lídice Luana Costa Franzao, Gabriel Gama Teixeira
Duração: 30’07”
José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, foi o diretor, ator e dramaturgo mais importante do teatro brasileiro. Ao lado de Renato Borghi, fundou o Teatro Oficina, companhia teatral pilar por onde passaram nomes como Fernanda Montenegro, Gianecchini, Bete Coelho, entre outros. Político que não subalternizou a estética, artista que não fez falsos recortes entre arte e vida, Zé Celso também lutou pela cidade ao defender a criação do parque do Bixiga, contra os empreendimentos de Sílvio Santos. Cento e quarenta e três dias após a morte do dramaturgo, a equipe do Universidade 93,7, programa da Rádio USP e do Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes, visitou o Teatro Oficina para assistir a peça O Jogo do Poder, primeira estreia da companhia produzida sem Zé. O especial conta com entrevistas a amigos, a colegas e fãs, para conhecer mais sobre a vida de Zé Celso, a história do Teatro Oficina e o legado que o diretor deixou para as artes brasileiras.
21h
Silêncio noturno _com ddd (2024), de Flora Holderbaum e Raquel Stolf [duo ddd]
Duração: 01’00”
Micro-peça silenciosa com ar denso em giros emendando, sob escutas de ventos e de fragmentos de chuvas em silêncios noturnos de Raquel, com as vozes, grãos e faders de Flora. O ddd é um acrônimo para o vento que ficou secreto, uma senha para o adensamento que deu um clima… um giro na borda do vento, hélice asa… Gravações feitas com gravador digital, microfone binaural e celular, em duas noites distintas e longínquas, uma em Florianópolis e outra em São Paulo. A micro-peça integrou o álbum de miniaturas eletroacústicas mix-FOF-cv-bang!, a partir da curadoria sonora para o IV Encontro Internacional de Música Eletroacústica (IV EIME), da Sociedade Brasileira de Música Eletroacústica (SBME), realizado em parceria com a Unespar, em abril de 2024.
Naufrágio: navegando pela saúde mental da Universidade (2023), de Rian Sousa Oliveira Bispo, Isabelli Pereira Pinheiro, Itânia Matias de Lima Macedo e Victor Hugo Moreira do Nascimento
Duração: 25’42”
Diálogo sobre a saúde mental dentro do ambiente acadêmico, especificamente na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Tangará da Serra. A ideia para produzir o documentário surgiu pela falta de profissional da Psicologia para atender as demandas do campus, no segundo semestre do ano de 2023. O audiodocumentário apresenta entrevistas com especialistas em saúde mental e estudantes. Além disso, também conta com relatos dramatizados enviados de forma anônima pelos acadêmicos, por meio de um questionário sócio-emocional desenvolvido durante as gravações. A produção apresenta falas emocionantes de acadêmicos, mergulhando nas complexidades das pressões acadêmicas, no impacto do estresse e nas estratégias para promover o bem-estar mental. A produção é fruto da disciplina de Laboratório de Jornalismo em Mídia Sonora do Curso de Jornalismo da Unemat, e foi vencedora da etapa regional (Centro-Oeste) da premiação Expocom na categoria melhor grande reportagem e documentário em áudio e rádio (2024).
Batucada Eletroacústica (2024), de Fabio Cadore
Duração: 06’46”
Com objetos do cotidiano captados por microfones de contato, o artista reencontra-se com a percussão e o pulso na música. Evocando os tambores de roda mesclados a sons inesperados, ele recria o espírito da batucada em uma paisagem que remete e funde a natureza aos sons tecnológicos. Fabio Cadore é percussionista, tendo atuado em diversos grupos de percussão, como maracatu e ritmos do oeste africano. Na busca por novos sons mergulha no estudo dos objetos sonoros e da música eletroacústica, desenvolvendo instrumentos sonoros com objetos descobertos em sua sonoridade única revelada pelos microfones de contato.
Ode ao Idem n.1 (2024), de Heitor Dantas
Duração: 19’29”
Primeiro de uma série de programas intitulada Ode ao Idem, em que a voz e a ambientação de locutores de rádio antigos são usadas como forma de ressignificação. Insere-se também, nesse contexto, peças compostas em diversas épocas pelo autor, como trechos do EP Bon Appetit, Sucuri (2014) e faixas do disco Unhas de Novembro (2013). Compositor, artista sonoro e produtor musical, Heitor Dantas dirige e opera o Menasnota Criação, foi finalista do Prêmio Deezer/ABMI de Novos Talentos e teve peças de arte sonora tocadas nos EUA e Canadá.
22h
Imaginary Waters 3 (2024), de Marcus Neves
Duração: 06’44”
Paisagem sonora que integra o disco homônimo lançado em 2024 pelo selo Música Insólita. A faixa une sons sintetizados e performados através de módulos em formato eurorack e gravações de campo (aqui, de águas), compondo um fluxo sonoro imaginativo criado por um compositor que não sabe nadar. Marcus Neves é artista sonoro brasileiro. Iniciou sua trajetória na música como vocalista de bandas de rock. Desde 2008 faz gravações de campo, composição de música experimental, performances ao vivo e trilhas musicais para teatro, dança contemporânea e cinema, atuando também como editor de som, mixador e sound designer. É professor nos cursos de Música da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).
Terror dos DJ's (2021), de Allan George Bezerra
Duração: 13’15”
Áudio série de mistério e suspense. Em formato de contação de histórias, a ambientação inclui trilhas e efeitos sonoros. As falas dos personagens são interpretadas por fãs de dublagem. A ficção se passa no complexo de uma Web Rádio de cultura Geek. Seus membros adotam apelidos para as identidades de locutores, ou DJs, como muitos preferem dizer. Quatro desses DJs vão apresentar um programa especial na rádio, mas mudam para um caminho de acesso proibido e se perdem dentro de um estúdio esquecido. Como sairão de lá? Mal sabem eles que essa é apenas uma das muitas dúvidas que ficarão sem respostas. Allan George é o DJ Ashllan, locutor de Web Rádio de cultura Geek desde 2015 e atualmente membro da Rádio AMC. Formado em Computação, trabalha como Assistente em Administração na Universidade Federal do Ceará desde 2013. Possui deficiência visual e pesquisa essa temática, enquanto aluno do Mestrado Profissional em Tecnologia Educacional, na mesma instituição.
Escuta Meu Piano (2024), de 131el
Duração: 05’26”
Início de uma série em que 131el busca registrar a decadência de um piano, doado por “não ter mais conserto”. O artista interpreta a peça como se fosse o último pedido de um piano já iniciando sua ruína. Tomado por cupins, cordas quebradas e frouxas, cepo rachado, cravelhas roídas, o instrumento insiste em soar. É a audição de mais um piano preparado/quebrado ou ele é único? Ainda é capaz de assombrar ou alegrar, como faziam seus antepassados? 131el (lê-se Biel) é o projeto solo de Gabriel de Sousa, músico multi instrumentista graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFC (2019). Iniciou trajetória em trilha sonora e desenho de som no filme Doce Amianto (Uirá dos Reis, Guto Parente - 2013, Alumbramento), junto à banda Chinfrapala. Toca saxofone e atualmente se apresenta com as bandas Máquinas, Chinfrapala e com Uirá dos Reis. Também utiliza técnicas como No-Input, faz uso não convencional de fontes sonoras (vinil, fita K7, motores e paisagem sonora) e sintetizadores artesanais, explorando a natureza do som através de timbres eletronicamente manipulados e os limites da percepção dos ritmos e da canção.
Extentions (2024), de Gloria Damijan
Duração: 19’53”
Peça para mídia fixa e sons ao vivo produzidos por vários objetos, instrumentos de percussão e placas de ressonância Toy-Piano. Ela explora as várias relações entre sons humanos e sons gerados por computador, revelando diferentes camadas de associações filosóficas inspiradas pelas discussões recentes sobre a influência da IA na produção de arte. Gravado ao vivo em 28 de junho de 2024, durante o evento Kastenkonzert48, na Setzkasten Wien, em Viena. Gloria Damijan estudou piano e pedagogia musical na Universidade de Música de Viena, com ênfase em música contemporânea e improvisação livre. Apresentou-se em Viena, Graz, Innsbruck, Antuérpia, Berlim, Barcelona, Lisboa, Porto, Oslo, Hamburgo, São Paulo, e faz parte da Rede de Improvisadores Vienenses snim.
Bilu (2023), de Gutemberg Júnior
Duração: 04’29”
A peça tenta, de maneira escrachada, emular, através de texturas feitas no papel, o estilo cômico e descompromissado do ET Bilu, motivo de brincadeira durante as aulas ministradas na universidade. Tomou forma durante reuniões do grupo Cantos Diversos, alternando entre momentos de adensamento e preenchimento do registro do espectro. Gutemberg Júnior é compositor com particular interesse na música eletroacústica, buscando intercalar os textos acadêmicos sobre o tema com um processo mais espontâneo de composição. Atualmente cursa Bacharelado em Composição na Universidade Estadual do Ceará.
A Seat at the Table (2024), de Hatiye Garip e Paddy Johnston
Duração: 03’01”
Ilustração desenhada por Hatiye Garip em 2018, audiodescrita para audiências cegas e de baixa visão, com desenho sonoro determinado e desenvolvido por Paddy Johnston. É uma das vinte audiodescrições do projeto Accessible Lines, que reúne ilustradores do Reino Unido e da Turquia em torno da criação de ilustrações acessíveis. Hatiye Garip é ilustradora deficiente, cartunista e designer de Istambul. Ela gosta de desenhar pássaros, flores e momentos comuns. Interessa-se por quadrinhos, medicina gráfica e experimentos com onomatopeias e gravações de campo.
23h
Frequência 3 - Segundo episódio da série (2023), de Paloma Klisys e Cíntia Molter
Duração: 60’00”
Episódio da série especial de rádio arte (2023-2025) que explora conexões no eixo Brasil, Cuba, América Latina, com desdobramentos multilinguagens. Frequência 3 foi convidado para participar da programação da 15 Bienal de La Habana, que acontecerá entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025. Cintia estuda cinema na EICTV em Cuba e Paloma articula uma rede de colaboradores do programa a partir de São Paulo e também viaja a Cuba realizando derivas sonoras para a criação dos episódios. O primeiro episódio participou da programação do Festival Internacional de Arte Sonora TSONAMI.
00h
Adentro tengo un sonido (2023), de Daniela Dávila N. e Giulianna Zambrano M., com produção de Nelson García
Duração: 35’52”
A perda auditiva transformou a vida de Vivian Rodríguez e Nelson García de diferentes maneiras. Eles não apenas tiveram que aprender a viver com seus respectivos diagnósticos, mas também mudaram a maneira como entendem as formas de escutar. Neste episódio, eles nos convidam a refletir sobre o som, a percepção, os sentidos, a identidade e a escuta através das suas experiências pessoais e da sua forma de se relacionar com o mundo. A pesquisa de campo e o roteiro são de Daniela e Giulianna Zambrano M. O desenho sonoro e a pós-produção são de Nelson García Producción. Crónicas al Borde é um podcast de não-ficção e intervenções sonoras. Narrativa e som criativo são combinados para documentar as vidas das pessoas a ponto de uma transformação. As histórias abordam debates sociais contemporâneos e direitos humanos a partir de como soam na América Latina e suas conexões nos dias de hoje.
Sintonia do Acaso - Fragmentos de int(er)venções Sonoras (2023-24), de Paulo Augusto Faria Motta
Duração: 19’28”
Audiosfera ambiente imediata com intervenções de sons eletrônicos sintetizados em tempo real. Versão reduzida de Audiosferas V (Noturno). A peça sonora é realizada pelo compositor, designer de som e sintetista Paulo Motta. Radicado em Juiz de Fora-MG, ele desenvolve projetos educacionais em música experimental/eletrônica e arte sonora, pesquisa transdisciplinar com estudos sobre som eletrônico e consciência humana e projetos composicionais baseados na exploração sonora com recursos eletrônicos.
01h
Oligopólis (2024), de Ricardo Thomasi
Duração: 14’09”
Trilha de performance experimental para ser tocada por alto-falantes. A peça surgiu de uma crítica à oligarquia e ao coronelismo que sustentam a expansão e exploração imobiliária na região da cidade de Maringá, no Paraná. A venda de territórios públicos para grandes construtoras, as obras municipais superfaturadas, a elitização dos espaços públicos e o alargamento do território urbano surgem embrenhados em commodities tecnológicas sob o título de desenvolvimento e sustentabilidade. A população segue cada vez mais espremida entre as zonas de elite e os desertos rurais que devastam o norte paranaense. A obra é original em estéreo e proposta para escutas atentas. Joga com materiais captados da cidade explorando transições entre ressonâncias reais e sintéticas; sonoridades profundas e intrigantes que são atravessadas por vozes vazias e clichês mercadológicos. Foi composta para a performance homônima de Gustavo Rodrigues, com estreia em julho de 2024, em Maringá. Ricardo Thomasi é artista sonoro, instrumentista, pesquisador e produtor musical atuante nas cenas da arte contemporânea, música e tecnologias e educação musical. É docente do curso de Música da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e professor colaborador nas pós-graduações em Música e Música Eletroacústica da Unespar. Integra o grupo Núcleo Música Nova (Unespar) e o Laboratório de Áudio e Tecnologias Musicais (LATM/EACH/USP). É diretor artístico do selo de música experimental Arte Estranha.
Murmúrios do Quartzo Rosa (2020), de Ginna Jorge
Duração: 13’00”
Arte sonora experimental que provoca os sentidos usuais da linguagem, procurando no ruído algum tipo de discurso mineral inteligível. Tenciona-se, assim, as noções estabelecidas sobre agenciamento, ao mesmo tempo em que evoca para o jogo da razão a pluriversidade ontológica. A arte sonora especulativa deste projeto é composta pela captação das texturas do quartzo-rosa por um hardware DIY confeccionado por Ginna Jorge. A saída do dispositivo é por um microfone piezoelétrico e por um módulo amplificador de frequências que leva a um alto-falante, para extrair sons totalmente analógicos, ou então por um cabo P10 conectado em uma interface digital, para a sua sintetização digital. Tanto no caso do EP, quanto na performance Live PA foi utilizada a versão digital, de modo que as texturas extraídas da superfície do quartzo-rosa foram sintetizadas no software Ableton Live. Ginna Jorge é criatura de fronteira, pesquisadora simpoiética e observadora dos mundos invisíveis. Borrando as bordas disciplinares, experimenta a artesania tecnológica como linguagem: práticas artísticas manuais, domésticas ou orgânicas em simbiose com dispositivos tecnológicos, científicos ou artificiais.
Misraim (Como é que escreve?) (2024), de Roberto D'Ugo Junior
Duração: 25’52”
Maria Julia e Deuzi são pescadores ocasionais. Quando a venda de cocadas artesanais não basta para garantir o jantar, os dois irmãos recorrem à pesca de subsistência, uma das poucas maneiras de sobreviver na Praia do Patacho, município de Porto de Pedras, litoral norte de Alagoas. Observam o avanço do turismo com alguma desconfiança. Maria Julia comanda a luta diária. Ela tem 58 anos; Deuzi não muito mais, ou menos. Do falecido pai, preservam a lição: "trabalhe, meu filho, trabalhe!". A humilde roça de mandioca, a coleta arriscada de cocos no pé, que valera ao pai a perda de um olho, o comércio nas feiras em cidades vizinhas. Da mãe, além da perseverança, guardam um vislumbre de poesia, manifesto na estranha combinação de sons de seu nome difícil: "Misraim". Maria Julia parece ignorar qualquer relação com antigos hebreus e egípcios. O nome próprio da saudosa mãe é uma distinção. Quando precisou hospitalizar Misraim, perguntaram: "Como é que escreve?". Relembrando, Maria Júlia soletra, com amor e orgulho: "com as poucas leituras que eu tinha, eu dizia assim: faça aí um M, um I, um S, depois um R, um A, um I e um M – Misraim, nome lindo, não?". A peça é uma abordagem poético-documental do cotidiano de pessoas simples, baseada em gravação de campo, feita com a água do mar na cintura durante uma tarde de janeiro de 2023. Uma imersão na vocalidade e nas emoções de Maria Julia, realizada por meio de processos eletroacústicos, com a sobreposição de texturas sonoras extraídas da fala. Dilatação, aceleração e desaceleração de um depoimento, para além de sua dimensão semântica. Mistura. O sentido das palavras emerge e submerge deixando rastros e traços de uma narrativa algo desorientada, elíptica. Ritornelo. O inconsciente como experiência acústica. Sonho ou manipulação desconcertante de um demiurgo? Da concreta abstração à montagem cinematográfica. Do gesto ao discurso. É apenas no epílogo da peça que a história surge de maneira mais linear, com a cintilância do sol vespertino sobre as ondas do mar. Roberto D'Ugo é um artista-pesquisador dedicado à radioarte. Suas obras exploram interfaces entre magia, técnica e arte. A partir de uma escuta poético-documental do cotidiano, desenvolve uma investigação estética que dialoga com o surrealismo e o minimalismo musical. A repetição ritualística de resíduos de falas e de fragmentos de gravações de campo é uma caraterística de seu trabalho. Doutor em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UNESP, foi coordenador de programação e produção da Rádio Cultura FM de São Paulo. É professor de rádio e mídias sonoras na Faculdade Cásper Líbero e membro fundador do coletivo de artemídia Petit Comité.
Sexta-feira, 01 de novembro
20h
A Revolta das Águas (2024), de Beatriz Silva, Clara Lobo, Alanda Arruda e Nathalie Fernandes
Duração: 24’40”
O radiodocumentário trata de um problema recorrente na cidade de Iguatu, no Ceará: as enchentes e os alagamentos. O município fica a 150 quilômetros de Juazeiro do Norte e a equipe foi até lá para ouvir as histórias de moradores atingidos durante os períodos de cheias. Além disso, os autores fazem um panorama sobre as famosas lagoas de Iguatu. As autoras são alunas do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri (UFCA) e desenvolveram a produção como trabalho final da disciplina de Laboratório em Radiojornalismo.
vento_AR_paisagem (2024), de Marcelo Brissac
Duração: 02’26”
Gravações em campo de ventos que sopram na cidade de Itu, no interior de São Paulo. Quando o artista gravou e ouviu, no momento imediato lhe veio a relação com o instrumento que o músico Marcelo Brissac toca, a flauta! O sopro, o ar vital para para a vida, o ‘nascemorre’ da vida na terra. Nesta paisagem colagem, no princípio, era o vento natural que, junto com as sonoridades da palavra vento, foram mixados outros instrumentos de sopros. Músico, produtor musical, radialista e locutor, Marcelo Brissac trabalhou como programador musical e produtor de programas nas Rádios Gazeta FM e Cultura AM, em São Paulo. Nos Estados Unidos, produziu e apresentou o programa Brazilian Connection, na rádio WCBN, em Ann Arbor. Durante 12 anos, foi gerente de produção e programação artística das Rádios MEC AM e FM no Rio de Janeiro, onde também produziu e apresentou os programas semanais Música de Invenção e Jazz Livre!. Trabalhou com artistas como Livio Tragtenberg e Cid Campos, é produtor da web rádio Deleite em Vinhedo-SP, e produz e apresenta a série A voz livre poesia sonora, transmitida semanalmente pelas Rádios Morabeza, em Cabo Verde, e UFRJ FM, no Rio de Janeiro. Apresentou trabalhos na Universidade de Coimbra (2012) e no Festival Multiplicidade no Oi Futuro RJ (2017).
Vocovanguardia AmeridadÁ (2017), de Juan Angel Italiano
Duração: 26’24”
Peça de radioarte, colagem e poesia sonora composta a partir de um coral de vozes que interpretam textos de autores vinculados a diversos movimentos das vanguardas latinoamericanas. Do mesmo modo que as vanguardas europeias se relacionaram entre si, na América Latina desenvolveram-se movimentos que demonstraram possuir uma identidade própria e uma clara vontade continental: “Na América todos somos americanos”. Superar o esgotado molde modernista, construir um novo mundo com sua própria fauna e flora, e ao mesmo tempo não estar alheio a outras realidades. “Afirmar uma arte nova, a exaltação do tematismo sugestivo das máquinas e as explosões operárias que quebram os espelhos dos dias subvertidos”. Finalmente conseguir a unificação de todas as revoluções efetivas na direção dos seres humanos. Juan Angel Italiano (Montevidéu, 1965) desenvolve seu trabalho a partir da pesquisa e produção em diversos suportes que adotam a linguagem poética para sua expressão: poesia sonora, poesia visual, poesia digital, poesia verbal, performance e os possíveis emparelhamentos entre elas.
21h
Espaço Sonoro: Terror no Cemitério (2022), de Louis Robin
Duração: 14’02”
O podcast Espaço Sonoro convida o cineasta Dennison Ramalho e o editor Cid Vale Ferreira para um passeio em São Paulo, pelo Cemitério da Consolação e pelas histórias arrepiantes que podem ter acontecido por ali. Louis Robin é radialista, técnico de som cinematográfico, produtor e diretor de podcasts e audiodocumentários.
Beabá da paz (2024), de Colectivo Refluxus
Duração: 07’33”
Nesta peça de poesia sonora, as artistas do coletivo internacional perguntam: como estabelecemos e restabelecemos conexões com todos os seres vivos, animados e inanimados? Como podemos cruzar as disparidades para criar possibilidades equânimes? Ressonando alfabetos de diferentes continentes e culturas, Anat Moss, Ebe Giovannini e Malu Hatoum desejam provocar desestabilizações dos significados pré-estabelecidos da língua falada/escrita em seus aspectos social e culturalmente erigidos, para encontrar frequências que não dispensem o conflito no processo de paz, rumo à possibilidade de múltiplas composições. Nesta composição, foram usadas gravações de sons em diferentes partes do mundo, culturas e modos de falar, em novos arranjos fonéticos, frequências específicas e sons da natureza, como resposta à profunda preocupação e tristeza em relação ao estado de guerra que se encontra o planeta. Também trechos de canções de povos originários do México e Brasil, que por sua natureza desconhecida tornam-se ininteligíveis para a grande maioria dos ouvintes. Comparecem paisagens sonoras da Itália (necrópole etrusca), México (selva maia), Brasil (Parque de Conservação da Chapada Diamantina, Bahia e cidade de Garça - São Paulo), Suíça (montanha de Nara), Jerusalém. Outros sons: esfera rotativa interpretada por Ebe Giovannini; canção maia para crianças de Joaquín Balam Che; instrumento Kalimba tocado por Malu Hatoum; alfabetos hebraico, italiano, maia, guarani, brasileiro (por Anat Moss, Alexis Manriquez G., Ebe Giovannini, Joaquín Balam Che, Malu Hatoum); voz de Malu Hatoum a 432 Hz (frequência de paz), 180z (frequência de meditação de Buda) e 528 Hz (frequência de cura); parte da música “Araruna”, do povo indígena Tupi Guarani, Brasil. Fundado em 2019 por estudantes do mestrado de Arte Sonora na Universidade de Barcelona, na Espanha, o Coletivo Refluxus contou até 2023 com cinco integrantes. Hoje está composto por Anat Moss (Israel), Ebe Giovannini (Itália) e Malu Hatoum (Brasil).
Você Sabe O Que É LSD, Pato Donald? (2023), de Bloika (Reuben Da Rocha e Igor Souza)
Duração: 05’35”
Poema sonoro estruturado em um jogo abstrato de pergunta e resposta entre voz natural e vozes sampleadas, produzindo contaminações recíprocas de timbragem entre as extensões do aparelho fonador e as possibilidades de desconstrução eletrônica. Bloika é um projeto de improvisação livre, de formação variável, criado por Reuben da Rocha e Igor Souza, com uma linha de investigação tendendo ao ascetismo, ao sincretismo e ao caos. A dinâmica do projeto é calcada na poesia sonora e seu nome deriva do verso “higo bloiko russula huju”, do célebre poema “Karavane”, do dadaísta Hugo Ball. Reuben da Rocha (MA) é um compositor interdisciplinar, poeta sonoro e improvisador. Igor Souza (SP) é um produtor musical e músico autodidata que transita pelo underground em diversos segmentos.
Negra (2022), de Raúl Rodríguez e Mauricio Barría
Duração: 25’34”
Com base em mais de 50 entrevistas, mulheres afro-chilenas de Arica e Azapa, no norte do Chile, contam suas histórias, marcadas pelo racismo, pela discriminação e pela sexualização de seus corpos. Apesar disso, elas se reconhecem como pessoas pretas e buscam preservar sua cultura e tradições afro-cristãs. Raúl Rodríguez é professor e criador artístico na Faculdade de Comunicação e Imagem da Universidade do Chile. É pesquisador e criador de peças radiofônicas e documentários sonoros desde 2007, tendo escrito e dirigido obras de ficção radiofônica sobre ofícios ancestrais do sul do Chile e projetos de não ficção, com mulheres afro-chilenas de Arica e Azapa, norte do Chile. Publicou o livro La Regata - Las Mariscadoras, teatro radiofônico do sul do Chile (2016) e uma série de artigos sobre radioteatro e documentários sonoros no Chile, Colômbia, Estados Unidos e Espanha. Mauricio Barría é professor da Faculdade de Artes da Universidade do Chile. Dramaturgo e pesquisador de teatro e performance, possui um trabalho como dramaturgo que explora permanentemente os vínculos entre palavras e som, mudando recentemente para o radiodrama e formatos de arte sonora para espaços públicos. Ganhou prêmios como dramaturgo e estreou em países como Brasil, Espanha e México.
22h
ÁUDIOS (2020), de Nuno Aymar
Duração: 34’38”
Trabalho experimental criado a partir de colagens de transmissões de rádio no Brasil e modulações por efeitos sintetizadores. A peça consiste em segmentos editados por meio de colagens, sobreposições e modulações com efeitos de loop, delay e reverb, intercalando entre um formato mais próximo do melódico, com elementos dos gêneros de harsh-noise e industrial e um formato de ensaio colagens sonoras. O trabalho foi criado em meio à instabilidade política do Brasil e sendo inspirado pelos sucessivos vazamentos de grampeamentos ligados a políticos brasileiros no contexto histórico dos meios de comunicação e grande mídia. O objetivo foi usar esses áudios vazados e modulá-los de forma criativa, a fim de criar um ensaio sonoro junto com materiais coletados de transmissão de rádios. Esta parte do trabalho foi realizada a partir de gravações de diversas estações de rádios sintonizadas na cidade de Recife-PE, reunidas conforme os horários de transmissão ao vivo em um aparelho rádio de pilha analógico. O apanhado e reunião destes materiais resultaram em um retrato ácido, por horas cômico e triste, de um Brasil fraturado. É um Brasil visto aqui não somente por um viés político, mas sobretudo por uma retratação de uma consciência coletiva em meio a convulsão dos programas de rádios matinais e propagandas; dos noticiários mórbidos; dos contrastes musicais; e da propagação de programas religiosos. Em suma, a obra buscou se aproximar de um sentimento de turbulência no cotidiano brasileiro. Nascido em Recife, Pernambuco, Nuno Aymar tem Bacharelado em Cinema e Audiovisual pela UFPE. É diretor, editor de de som e músico. Trabalhou na direção e edição da terceira temporada do programa de entrevistas 2 Na Música, na direção e edição do programa Cinestesia na Rádio Frei Caneca FM de Recife, e no design de som do curta Circo Distendido. Como músico realizou a trilha sonora da websérie Cartas Para Ninguém e desenvolveu trabalhos de arte-sonora e produção musical independente.
É desses pequenos grãos que a polícia constrói seus monumentos de miséria (2021), de Frederico Pessoa
Duração: 18’06”
Curto monólogo construído a partir de fragmentos de quatro obras literárias escritas por presidiários brasileiros: Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos; Vidas do Carandiru, de Humberto Rodrigues; Enjaulado: o amargo relato de um condenado pelo sistema penal, de Pedro Paulo Negrini; e Memórias de um Sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes. A obra sonora de Frederico Pessoa propõe a escuta das vozes silenciadas pelos sistemas de controle e punição que inúmeras vezes, a partir dos diversos preconceitos que se enraízam e se entrecruzam na sociedade brasileira, traçam a tênue linha que separa os identificados como moralmente condenáveis de seus algozes. O percurso se constitui por meio da experiência subjetiva desses autores e um imaginário sonoro que dialoga com seus relatos, reflexões e experiências. Essa obra foi apresentada no XV Festival de Arte Sonora Tsonami (2021). Frederico Pessoa é músico e artista sonoro, mestre e doutor em artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. Vem trabalhando com a reapropriação de utensílios diversos e sua transformação em objetos estético-sonoros, bem como na coleta de sons de acontecimentos cotidianos e sua resignificação em peças sonoras, trabalhos audiovisuais e performances multimídia. Seus trabalhos recentes abordam, através dos sons, questões políticas contemporâneas, como as relações entre seres humanos e não-humanos, a mineração, o silenciamento da população carcerária, a repressão policial, entre outros temas semelhantes. Além disso, tem escrito textos na fronteira entre a literatura e uma análise sociológica da escuta, a fim de explorar, pela palavra, possibilidades de mobilização que o som cria.
23h
MixScapes de Havana (2024), de Amiantus
Duração: 07’03”
Composta a partir da vivência de Marcelo Wasem (Amiantus) em outubro de 2023, esta peça sonora reúne gravações das ruas de Havana e áudios diversos. Imagens sonoras estereotipadas. “Guantanamera” está para Cuba assim como “Sandália de Prata” está para o Brasil. Obatalá e muitos outros Orixás que aqui habitam também se fazem presentes lá. Os discursos históricos de Che Guevara e Fidel Castro contrastam com o som das bandas de rua, vendendo a musicalidade típica esperada. Áudios enviados via “zap” por amigos e amigas que Amiantus conheceu em sete curtos dias. Antes dele, sua amiga brasileira Paloma esteve lá, abrindo seus ouvidos. Depois foi sua vez, com o propósito de realizar uma residência artística do projeto Moeda Terral. Ao final, descobriu que as reverberações entre Brasil e Cuba são múltiplas, de várias ordens, difíceis de decifrar e impossíveis de não se encantar. Artista visual, músico e docente, Marcelo Wasem trabalha com arte sonora e artes visuais desde 2000, com foco em poéticas colaborativas, desenho, escultura, rádio-arte e sonoridades no espaço público, desenvolvendo pesquisas em espaços não tradicionais. Realizou residências artísticas no Museu da Maré (Rio de Janeiro), Circuito Interações Estéticas (cinco cidades do Brasil), Programa de Orientação de Projetos de Artes Visuais (SESC-SP). Colaborou na parte sonora da obra-restaurante Restauro, na 32a. Bienal de São Paulo (2016 ). É docente na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), onde é vice-decano do Centro de Formação em Artes e Comunicação, além de professor colaborador nos programas de pós-graduação da UFSB e da UFMG. É líder do grupo de pesquisa “EncruziFricções: poéticas, arte pública e colaboração em atrito”(CNPq).
Efeitos Colaterais (2024), de Andre Perim
Duração: 17’14”
Transposição para o formato de rádio arte dos relatos de uma estadia de um ano em um hospital, devido ao tratamento de um câncer. O trabalho começou a ser produzido e composto durante a internação do músico e artista multimídia Andre Perim. O processo deu origem a um programa de música eletrônica transmitido pela Radio RTM de Londres e posterior lançamento de um livro autobiográfico. Participou da edição 2023 do Festival Irradia com a obra Xêpa.
Estudo nº25 (2021), de Leonardo Luigi Perotto (aka Léo Perotto)
Duração: 07’45”
A peça integra uma série de estudos sonoros que mesclam sons eletroacústicos produzidos por meio analógico ou digital, às vezes com samplers, ruídos, sons instrumentais e gravações cotidianas do autor. A série iniciou-se em 2015 e segue até os dias de hoje, de acordo com as necessidades de aprimoramento técnico e estético do autor. Estudo nº25 foi criado com samplers de notícias cotidianas dos jornais televisivos brasileiros, sons musicais, ruídos e sons eletroacústicos que criam um diálogo imagético sobre a violência cotidiana e a banalidade social da violência no Brasil. Leonardo Luigi Perotto (aka Léo Perotto) é artista visual sonoro, professor na Fundação Cultural de Palmas, no Tocantins. Graduado em Música e Artes Visuais, faz parte do Coletivo Balalo (artes visuais) e do Duo Solvente (improvisação livre). É doutor em Artes e Educação pela Universidade de Barcelona, na Espanha, e pesquisa performance, transdisciplinaridade e estética. Vive entre Palmas e Goiânia.
Composição nº1, sensível ao conteúdo (2021-2023), de Sue
Duração: 20’40”
Quando deambular pelo bairro da Lapa em São Paulo se torna uma experiência sonora com a cidade e os objetos encontrados no caminho. Uma colagem sonora que se torna a possibilidade de uma imagem. Sue é produtora musical e multiartista de origem francesa, radicada em São Paulo desde 2013. Atua no campo da performance, do audiovisual, da música improvisada e da arte sonora. Desenvolve peças sonoras relacionadas a imagem fixa e em movimento, com ênfase na gravação de campo e fotografia analógica. Integra o projeto São Paulo Instrumental, regido pelo maestro Guilherme Peluci (Orquestra Ad Hoc), e participa de diversos grupos de improvisação livre, como a SPIO Orquestra, o coletivo de música experimental Murmur, o coletivo de improvisação livre Constelar e Vertice.
00h
Desierto Sonoro (2023), de Diego Véliz e Jorge Acevedo
Duração: 57’43”
Resultado de uma exploração artística realizada em Arica, (atual) cidade chilena que faz divisa com Peru e Bolívia, em pleno deserto do Atacama. O projeto é composto por cinco obras tão diversas quanto o território habitado por elas. Uma espécie de caminhada sonora pela costa, a multiplicidade de vozes em um terminal internacional de ônibus e em um mercado agropecuário, o ecossistema de um pantanal ameaçado e os fantasmas de uma estação de trem desabitada; são os elementos que convidam a escutar os sons de uma terra fronteiriça. Com som, montagem e pós-produção de Jorge Acevedo, a obra tem direção geral de Diego Véliz, historiador pela Universidade de Tarapacá e mestre em Documentário Criativo pela Universidade Autônoma de Barcelona. Seus curtametragens “Cuatro Manos”, “Paula”, “Wellness” e “Concordia” circularam por mais de cinquenta festivais por todo mundo, com premiações no Chile e na Espanha. Vive e trabalha na tríplice fronteira entre Chile, Peru e Bolívia, desenvolvendo projetos em sua produtora Candelabro Films. Desierto Sonoro é sua primeira obra de arte sonora, apresentada em festivais como Longueur d'ondes, Tsonami e Monteaudio, e com a qual ganhou o Prêmio Paisagem Sonora no 28º Phonurgia Nova Awards, na França.
01h
54 000 (2023), de Rocío Cerón
Duração: 23’17”
A peça reflete sobre a linhagem materna e o que ocorre geneticamente no DNA mitocondrial através da metáfora e do corpo simbólico da água. A palma da mão (que recolhe, bebe e passa essa água) é o ponto de partida para a criação da peça sonora, que indaga sobre os canais e fluxos da linhagem e a transmissão da memória e o espírito dos ventres maternos. A peça responde também, de forma artística, ao questionamento da memória e da rastreabilidade dos movimentos migrantes desde a origem da vida humana. A improvisação de percussão é de Chefa Alonso, e a pós-produção e masterização é de Fermín Martínez. Rocío Cerón (Ciudad de México, 1972) é poeta, artista e performer. Tem lançado álbuns de poesia sonora e livros de poesia. “Diorama” ganhou o prêmio de Melhor Livro Traduzido de 2015, concedido pela Universidade de Rochester (Estados Unidos). Também recebeu o Prêmio Nacional de Literatura Gilberto Owen de Poesia (2000, México) e o Prêmio See América Travel (2005, Estados Unidos). Realizou diversas residências artísticas no México, onde participou da Bienal de Fotografia do Centro da Imagem com o videopoema “Potenciales evocados” (2021). Em 2023, ela recebeu a Bolsa Internacional para Poetas Michael Rothenberg, e desde 2010 faz parte do Sistema Nacional de Criadores de Arte do México (SNCA).
Mal com tato (2024), de Ariane Stolfi
Duração: 10’00”
A obra é resultado do encontro de duas gerações de feitores de instrumentos musicais. A faixa base foi produzida no pato sinth, um sintetizador analógico montado pelo pai da autora, Guido Stolfi, nos anos 70. Originalmente controlado pelo computador Patinho Feio, no laboratório da Escola Politécnica da USP, o lendário sintetizador pode agora ser controlado por um PC normal. A base foi feita pela autora a partir de uma partitura digital, onde ela improvisou com os timbres produzidos pelo aparelho. Sobre essa base, foi construída uma paisagem sonora fantástica utilizando a plataforma Playsound.space, desenvolvida pela autora, que utiliza samples da biblioteca Freesound.org para manipulação em tempo real. Ariane Stolfi é arquiteta, designer, programadora, musicista e professora, e transita por várias linguagens e disciplinas. Doutora em Sonologia pelo departamento de Música da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e Mestre em Arquitetura e Design (FAU-USP), pesquisa interfaces interativas em tecnologias web, atualmente na Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Foi pesquisadora visitante no Centre for Digital Music (Queen Mary University of London) e participou de diversos festivais e eventos, como Festival de Música Nova, Digitália, SHA, Submidialogias, DIS Experimental, ¿Música?, Virada Cultural, Bigorna, Improvise!, Circuito de Improvisação Livre, Amostra Sonora, Áudio Insurgência, Tecnoxamanismo, CMMR, Web Audio Conference, Audio Mostly, UbiMus e NIME.
emersão (2020), de Felippe Brandão
Duração: 08’13”
Exploração de sons subaquáticos escutados por uma tripulação hipotética de mergulhadores de saturação, emergindo à superfície em um sino de mergulho. A peça mescla gravações de campo realizadas em diferentes locais e sons sintetizados em Pure Data. A autoria da obra é de Felippe Brandão (Fefo) é artista, professor de arte e pesquisador residente em Vitória (ES). Possui licenciatura em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestrado em Artes pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).Trabalha com improvisação, programação de sistemas interativos, gravações de campo e ideias que lhe vêm à cabeça.
LK Variations (2024), de Fabio Bola
Duração: 12’33”
Obra inédita do multiartista Fabio Bola, que parte de gerações sonoras ativas em Lich Knoscillator, um programa de computador em linguagem C++, de Damien Quartz. A sequência contínua original gerada em performance no programa serviu como base para diversas desconstruções sutis, a partir da aplicação de efeitos e da realização de contrapontos com os resultados. Em atividade desde o final da década de 1970, Fabio Bola é compositor, pianista, cantor, produtor, arranjador formado pelo CIGAM, mestre em design de áudio pela PUC-Rio, licenciado e doutor em filosofia pela UFRJ, doutor em arte pela UERJ. Também atua como DJ, diretor musical de filmes, exposições e peças de teatro e professor. Interpretou peças de Ricardo Tacuchian no premiado Coral CMSJ, realizou trilhas de filmes de David França Mendes e Fernando Gerheim, trilhas para exposições de Franklin Cassaro, trilhas de peças do diretor Fernando Taunay, e trilhas para performances de Michel Groisman e do VJ Jodele Larcher. Como compositor, pianista e cantor, vem desenvolvendo um trabalho diversificado com ênfase em música brasileira, jazz, música erudita, popular e experimental. Participou da Bienal do Mercosul em 2010 com a peça sonora “Poema épico encolhido” e em exposições coletivas com obras sonoras em 2017 ("5in Co Maria" no MNBA) e 2018 ("Cummings Revisited" no Centro Cultural dos Correios).
Sábado, 02 de novembro
20h
Alfabetismo (2023), de Henrique Iwao
Duração: 35'28"
Há alguma conexão entre o alfabeto e viagens no tempo? Sobre isso, o que o poema japonêsいろは (Iroha) pode iluminar? Henrique Iwao investiga essas questões enquanto pensa sobre músicas e filmes reordenados alfabeticamente. Também intercala trechos de colagens musicais do álbum "Palavra Palavra", de sua autoria. Esta apresentação é uma versão radiofônica inédita da peça. Henrique Iwao trabalha com música experimental, composição, improvisação, arte sonora, performance, vídeo, além de filosofia da música e estética filosófica. Suas criações lidam com colagens e coleções, além da preocupação com a construção de desafios de performance e interpretação, bem como deslocamentos do olhar e do ouvir. Desde 2008 desenvolve seu próprio instrumentário - uma tábua amplificada, sob a qual usa vários objetos cotidianos, em combinação com eletrônica e brinquedos. Em 2012, pela USP, escreveu a dissertação "Colagem Musical na Música Eletrônica Experimental", e em 2023, pela UFMG, a tese "Música como arte: significado musical e a ontologia da obra de arte de Arthur Danto". Integrou o núcleo de música experimental Ibrasotope (São Paulo, 2007-2013), promovendo as mostras Conexões Sonoras e os dois primeiros Festivais Ibrasotope (depois renomeados para FIME). Integra o selo musical Seminal Records, participou da organização das Quartas de Improviso (QI), em Belo Horizonte, e do Praça 6, música de ruído em praça pública.
Catimbau Intro (2024), de Eduardo Romero
Duração: 06’05”
A peça faz parte de uma pesquisa sonora denominada Sinfonias Microfônicas, que se debruça sobre a captação externa de sons e o trabalho com noise de guitarras e sintetizadores. A composição das sinfonias parte de desenhos/fotografias que se arranjam em partituras (Partituras Desenhadas) que orientam a estrutura/sequência dos sons. Catimbau Intro é a primeira de duas sinfonias compostas/gravadas a partir da escuta/captação sonora do Vale do Catimbau, em Pernambuco, no ano de 2024. Eduardo Romero nasceu e vive em Olinda-PE. Trabalha com artes visuais desde 1997. É doutor e mestre em Antropologia Cultural pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista no Ensino de História da Arte pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Atualmente, é professor dos cursos de Artes Visuais do CAC - Centro de Artes e Comunicação da UFPE. Coordena o Grupo de Pesquisa Symbolismum - Estudos sobre Imaginário e Complexidade. Tem obras adquiridas pela Fundação Bienal de Cerveira, pela Pinacoteca de São Paulo e pelo Instituto Moreira Sales. É autor do livro "Visível Audível Tangível: Mitos do Corpo na Performance em Pernambuco" (2008). Atualmente desenvolve a pesquisa em arte sonora CAMPO - GRAVIDADE, apresentada na Galeria Capibaribe (CAC/UFPE) e no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica do Rio de Janeiro, em 2024.
Bloque Publicitario (2024), de ferima
Duração: 10’24”
Obra audiovisual construída a partir de trechos de comerciais, propagandas e spots televisivos das décadas de 1980 e 1990. Para esta ocasião, a obra é apresentada em seu formato apenas sonoro. Trata-se de um bloco rústico e egocêntrico que mistura a cultura de diferentes países, manifestando desejos, lutas e anseios da população expressos em comerciais e representações sonoras de consumo, e, no que diz respeito a este artista, mostrando como a população se apropria e repete esses elementos para sua própria cultura. Organizado em momentos de voz falada, misturas sonoro-musicais e peças abstratas, a peça desperta costumes sonoros contemporâneos derivados de zapping, interrupções e variações de qualidade e linguagem. Quantas das questões derivadas da TV e dos meios de comunicação de massa deixamos para trás ao tomarmos consciência delas e quais ainda deixamos evoluir e aderir às nossas culturas, ainda orbitando no cotidiano? O artista sonoro reside na cidade de Concepción, no Chile. Dirige performances sonoras a partir de uma abordagem experimental, improvisada e minimalista. Normalmente utiliza voz, respiração, intervenção com efeitos digitais e analógicos, além de amostras de registros audiovisuais de TV, cinema e meios de cultura popular. Integra o coletivo Resistencia Sonora e também atua como músico e compositor de hip hop alternativo e música eletrônica, combinando sons analógicos e digitais com poesia cotidiana.
21h
Performance em Debate: Entrevista com o grupo NSLO (2023), de Carlos Eduardo Borges, Ana Follador, Guilherme Schmittel e outros
Duração: 56’46”
Fragmento do projeto de extensão Performance em Debate, que entrevista o grupo NSLO e trata dos limites entre a performance nas artes visuais e a música. Carlos Eduardo Borges é artista visual, pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), onde desenvolve o projeto Performance em Debate. Integra o grupo 3P – Práticas e Processos da Performance. É doutor em Artes pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Suas práticas poéticas se ancoram no conceito das PALAGENS (palavras + imagens) através de multimeios, arte sonora, performances, instalações e intervenções em paisagens. A edição é de Ana Follador e Guilherme Schmittel. Participação de diversos estudantes que integram o projeto.
22h
Zona Morta - Wie man das Echo in Worte fast? (2023), de Carla Boregas
Duração: 44’08”
Projeto da artista sonora, compositora e musicista brasileira Carla Boregas, comissionado e produzido por Deutschlandfunk Kultur (Alemanha) e ORF Kunstradio (Aústria). O projeto teve início em 2016, quando Boregas comprou um gravador de fita cassete e começou a gravar mulheres contando seus segredos. Com mais de 70 segredos de mulheres de diferentes nacionalidades e idades, o projeto já tomou diversos formatos: sessões de escuta, laboratório e peça radiofônica. Para o desdobramento radiofônico do projeto, em português Zona Morta - Como colocar o eco em palavras, Boregas teve como ponto de partida a seguinte pergunta: “O que a voz de uma mulher contando um segredo pode desencadear em outras vozes?”. Para responder a essa pergunta, a artista convidou as cantoras Anjeline de Dios (Filipinas), Audrey Chen (China/Taiwan/EUA), Cansu Tanrikulu (Turquia) e Paola Ribeiro (Brasil) para uma sessão de escuta das fitas. Imediatamente após a escuta, as cantoras deveriam responder com uma sessão de improviso vocal. As gravações dos segredos e as improvisações-respostas serviram como ponto de partida para a composição dessa peça radiofônica. As fitas cassete são documentos sônicos que reúnem características sonoras da voz (sussurro, choro, riso, respiração), ao mesmo tempo em que mostram explicitamente um panorama social por meio de histórias vividas por mulheres: questões familiares, aborto, hábitos rotineiros, abuso sexual, relacionamentos. Muitas vezes denunciados pela sociedade como algo vergonhoso, cada segredo contém um universo único e pessoal de cada mulher e, ao mesmo tempo, representa muitos problemas coletivos relacionados à pressão moral, cultural e social enfrentada pelas mulheres. Assuntos íntimos, mas inegavelmente coletivos.
Uma Árvore Que Viveu Muito (2024), de Ianni Luna
Duração: 10’00”
Paisagem sonora fictícia que versa sobre as fronteiras dos binômios natureza-cultura e espaço-tempo, por meio de uma narrativa não-linear que enfatiza as instâncias de ambiguidade implícitas na experiência da escuta. A obra é uma trajetória sonora que reverbera espaços de liminaridade e intersecção em seus meandros mais obscuros. Ianni Luna é artista, cientista social e pesquisadora do som. Seus trabalhos elaboram mundos imersíveis na articulação entre arte, tecnologia e ficção. A partir da escuta enquanto conceito estético, desenvolve projetos que operam a partir da noção de ambiente. Desde 2012 tem exposto instalações, filmes e performances. É pós-doutora em Artes pela Universidade de Brasília (UnB).
23h
Impromptu: #3 Estudo para Smetak (2021), de Daniel Tamietti
Duração: 05’59”
Em homenagem a Walter Smetak, uma viola da gamba microfonada com um captador de contato e alguns pedais de guitarra apresenta possibilidades tímbricas não convencionais, assim como o grande mestre suíço-brasileiro o fazia. Daniel Tamietti é violoncelista, improvisador, compositor e arranjador. Mestre em música pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), caminha entre a arte experimental, o repertório tradicional de concerto e a música popular. Já participou de diversos projetos de dança, vídeo e música improvisada. Integrou orquestras brasileiras, dentre elas a Orquestra Ouro Preto. Apresentou-se ao lado de artistas nacionais e internacionais como Letieres Leite, Fernanda Takai, Tim Rescala, Stephan Froleyks, Kystoffer Dreps, Marco Scarassatti entre outros. Atualmente dirige o impromptus, integra o projeto Tabacaria, o Duo Cello e Rio e o Trio Nascente.
For whom the roses weep (2023), de Matheus Sampson de Lima Paiva
Duração: 05’33”
Obra composta com sons de cadeiras de aula arrastando no chão. Explora as resultantes texturas e dinâmicas do barulhento e caótico ruído resultante. Matheus Sampson é aluno do curso de Música da Universidade Estadual do Ceará (UECE) e compositor de peças eletroacústicas, noise, e arredores alternativos.
Emboscada em Água Branca (2023), de Trio Pó-de-Serra
Duração: 15’58”
Através do ruído, microfones de contato e pedais, o instrumentário formado por Zabumba, Rabeca e Triângulo tem, na sua performance, a premissa da desconstrução do uso tradicional desses instrumentos e a diversidade sonora ao trio que seria impossível num grupo de forró tradicional. O Trio Pó-de-Serra é formado, atualmente, pelos artistas pesquisadores Marco Pinagé, Matteo Ciacchi e Carol Guimarães. Residentes da cidade de João Pessoa (PB), os artistas possuem diversos projetos dentro e fora do campo experimental da arte sonora, além da música dita popular.
Polarity 1 (2024), de Meta Golova
Duração: 04’55”
Em resposta à exposição ax-d. us. t, do artista contemporâneo brasileiro Adriano Costa na galeria Emalin, The Clerk’s House, a dupla de música e arte sonora Meta Golova apresenta uma peça sonora-envelope de áudio duplo executada em mandarim. Inspirada pelos temas conceituais de transmutação do artista, Meta Golova cria uma experiência de poesia sonora influenciada pela dicotomia Leste-Oeste, mitologia chinesa, até mesmo O Livro Tibetano dos Mortos, para se referir a objetos e significados que estão ocultos. Nada é constante, e sim mudança. As condições podem não ser adequadas; podemos não estar prontos para isso ainda; mas a orientação sonora em um formato de mantra pode revelar para tornar seu significado disponível. Oriente e Ocidente dialogam no encontro dos artistas Carlos Issa, brasileiro, nascido em São Paulo, e Lena Kilina, natural da Sibéria, que escolhem a música e o transe sonoro para derrubar as polaridades mentais e geopolíticas do planeta que segue a evolução infinita.
Send Receive (2021), de Vortichez
Duração: 05’26”
Manipulação ao vivo em Absynth de uma gravação de campo feita em um grupo de estudo Deep Listening® com as alunas da artista, Lena e Katya, na área comum de uma torre residencial em Astana, Cazaquistão. Este bloco de apartamentos é oco no centro, permitindo que os sons façam uma longa jornada e sejam seguidos em seu caminho. A gravação é das três fazendo uma Meditação Sônica de Pauline Oliveros, “Enviando e Recebendo”, executada com um pod de poinciana (Vortichez), uma harpa de boca (Lena) e um pente de plástico (Katya). A obra foi selecionada para o programa Central Asia PhoNographic Mornings, por Each Morning of the World, e transmitido na rádio Resonance Extra, em Londres, em 04 de abril de 2021. Vorticez é o projeto eletroacústico de Charlotte Adams, compositora de eletrônica que trabalha com vários métodos de espacialização.
UAPY (2022), de Henrique Vaz
Duração: 15’01”
UAPY: instrumento membranofônico. Segundo Frei Pedro Sinzig (1976, p. 207), este é um “tambor dos índios brasileiros”. Gondim (citado em SINZIG, 1976, p. 589) ainda acrescenta que “segundo a opinião de A. Mascarenhas, este tambor é destinado aos rebates e às convocações das assembleias. É ao som dele que conduzem o prisioneiro, amarrado com o mussurana para a ocára quando vão sacrificá-lo”. Instrumento de percussão indígena "2.1.1.2.1." (HORNBOSTEL; SACHS, 1914). Ensaio preliminar sobre retroalimentação “controlada” em um membranófono (mapeamento de nodos/modos de vibração nas “peles” e em cones de alto-falante na função transdutor + algoritmos de processamento), amplificador caseiro de topologia OCL (500 watt RMS + módulo de filtro sob CI 4558) e transdutores montados em falantes de largo diafragma (12”, 18”) e alguns sob circuito “op-amp/hex inverter. Henrique Vaz foi professor substituto de composição e tecnologia musical no Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora (2022-2023), é autor dos livros “Ensaios” e “Crônicas” (Estranhas Ocupações, 2023). Doutor em Processos e Práticas Composicionais pela Universidade Federal da Paraíba (bolsista CAPES - FAPESQ), lidera o grupo de pesquisa “Gambioluteria - da programação orientada a hacks à escultura lutérica pós-digital”, com foco nos caminhos da pedagogia em “código criativo”.
00h
Protección algarrobo (2022), de Carla Canto
Duração: 06’16”
O encontro com a árvore do taxhu, denominada por Carla Andrea Molina Reguerin (Carla Canto) como “árvore do amor” e também conhecida como alfarrobeira, foi provocado por uma amiga que pediu ajuda para cuidar de sua colina Bello Monte. Conhecer o amor da árvore chegou em uma fase de fragilidade e recuperação da artista, em que o ativismo sonoro materno em áreas protegidas se encontra ferido, assim como o amor. É um tempo de reflexão para saber que não se pode dar o que não se tem, e podemos pedir proteção. A árvore é um refúgio em que, junto com seu filho autista, a artista passa tempos de meditação: abrigo em suas folhagens, um espaço para rezar, escutar, chorar, cantar, ler, fazer cerimônias com ele, ativar cuidados e aprender a amar. Carla nasceu em La Paz, na Bolívia. É mãe, musicista, cantora, compositora, arranjadora, multi-instrumentista, professora de canto e ativista. Apresentou-se na Bolívia, Argentina e em outros países, junto a grupos como Akaruna, Adarah, Ukamau, Duo Vocal Ayni, entre outros da cena de jazz, música étnica andina, contemporânea, pop, etc. Investiga o canto não verbal e esse ponto de dobradiça entre a linguagem verbal e não verbal, sua relação com o ecossistema nativo, uma comunicação musical e cantada.
Oneiros 1 (2022), de Sascia Pellegrini
Duração: 30’35”
Peça que integra uma série de experimentos de processamento de gravações ao vivo de ondas do oceano. Sascia tem experiência em teoria de mídia, fenomenologia e práticas artísticas, com sólido background em composição musical. O artista conduziu cursos em universidades no Reino Unido, Hong Kong, China e Singapura, contribuindo com conferências e periódicos acadêmicos dos Estados Unidos, Europa e Ásia. Sascia é professor conferencista de Composição e Artes Integradas da Escola de Artes de Singapura, editor da Open Space Magazine (Nova York) e avaliador da editora SAGE, na área de Psicologia da Música.
Shaku/Hachi - The big flow version (2024), de Electrons in Slow Motion
Duração: 16’00”
A obra musical é apresentada como uma máquina sonora projetada para envolver poderosamente o nervo óptico e os sentidos conectados. Uma jornada profunda, na busca do fluxo e da conexão profunda entre a realidade interna e a externa. Nascido em Bucareste durante a década mais estranha da era comunista — a década de 1980 — Marius Copel, também conhecido como Electrons in Slow Motion, é, além de músico e criador visual, o diretor artístico de um dos poucos festivais de cinema político do mundo. Por ter sido testemunha durante essa atividade de inúmeras investigações artísticas e jornalísticas independentes, uma conclusão pessoal emergiu: pode ser um esforço solitário, mas o espaço metafísico dentro de nós é o único estado autêntico, perene e sem fronteiras que finalmente descobrimos. Seus trabalhos de estúdio foram apresentados em vários programas de rádio, desde o lendário Grenzwellen na Rádio Hannover, apresentado pelo DJ alemão Ecki Stieg, passando por programas de nicho como Aural Tethers (CFRU, Canadá), Unexplained Sounds (Itália) ou pela Resonance FM (Reino Unido), e em publicações especializadas de todo o mundo, como Electronic Beats (Alemanha/Romênia), ADRS (Canadá/Japão), Scena9 (Romênia), Dilema Veche (Romênia), Beatradar (Noruega) e Chromatic (Espanha).
Domingo, 03 de novembro
20h
Yov Sessión (2021), de Federico Eisner, Pía Sommer, Carlos Edelmiro López
Duração: 14’15”
Intervenção eletroacústica sobre o poema fonético "Yov" (2011), da poetisa sonora chilena Pía Sommer e do compositor mexicano Carlos Edelmiro López, originalmente baseado no poema "Voy Lejos", de Sommer. Esta intervenção baseia-se na aplicação de processos aleatórios e na utilização do instrumento virtual Yov, que foi montado a partir da tomada de todas as notas longas e afinadas, e atribuídas às suas tonalidades correspondentes em um controlador, o que dá uma estranha escala de pouco mais de duas oitavas, utilizada em diversas passagens da peça, gerando uma espécie de âmbito harmônico vocal descontínuo. Federico Eisner-Sagüés (Montevidéu, 1977) é músico e poeta, fundador da Orquesta de Poetas e do Festival de Poesia Y Música PM. Tem mestrado em Musicologia pela Universidade do Chile e doutorado em Artes - Música pela Universidade Católica do Chile. Pía Sommer (Chile, 1981) é poeta e artista intermídia e Carlos Edelmiro (Monterrey, 1987) é compositor e artista sonoro, ambos autores de obras de circulação internacional.
mar (2023), de Daniel Puig
Duração: 09’16”
Caminhada sonora na Praia do Espelho (BA), gravada em 2017, editada e finalizada em 2022. A proposta seguiu o exercício do artista de não se retirar da cena e buscar perspectivas auditivas imersivas: passos, ondas que batem nas pernas, esguichos em sua direção. A edição do material bruto procurou enfatizar isso e compor o percurso de sonoridades em uma narrativa que poderia não ter começo ou fim, como o mar. Também favoreceu a captação um dos cenários mais incríveis do planeta, o formato das falésias protegendo a areia na Praia do Espelho e das rochas que entram pelo mar. A obra faz parte do álbum [gravuras do] tempo, a ser lançado este ano pelo selo LAMI, do NuSom-USP. Daniel Puig (1970) é artista, compositor e professor do Centro de Formação em Artes e Comunicação da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Rahu Contemporâneo (2024), de Marjoly Queiroz
Duração: 03’11”
Resultado de uma experimentação sonora com poesia, no qual a artista imagina o elemento da astrologia védica Rahu narrando através de Marjoly aspectos dela que são ocultos e desconhecidos de si mesma, considerando os aspectos do seu mapa védico. Na cultura védica, Rahu (nodo norte) é um ponto da órbita da lua, de natureza maléfica e representa o mistério e o desconhecido, o desejo incessante, as ilusões e as distorções… Marjoly Queiroz é artista visual e graduanda no bacharelado de artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Traz em seus últimos trabalhos uma triangulação entre arte, sonho e tecnologia, produzindo através da pintura, da instalação e da sonoridade.
The Plane(s) (Episode 41) (2024), de rebekkah palov
Duração: 17’28”
Live semanal tête-à-tête de improvisação eletroacústica, realizada por Rebekkah Palov pelo YouTube, mesclando arquivos de áudio preparados, composição ao vivo e imagens de câmeras de vídeo. Rebekkah Palov é uma artista que se baseia no tempo. Seus vídeos e arte sonora foram exibidos em festivais e exposições de filmes experimentais, incluindo MassArt Boston, Museu de Arte e Design de Nova York, SAT Montréal, QC, Bushwick Starr de Nova York, Oblo Film Festival em Lausanne (Suíça) e SoundFjord Gallery, em Londres, no Reino Unido. Ela é membro dos conjuntos eletroacústicos NowNetArts Hub e Carrier Band.
Desenho a fim de provocar escutas (demo) (2024), de Thiago R
Duração: 07’24”
O gesto do desenho é o mote inicial para a realização da peça, a partir do procedimento da frotagem, que consiste em registrar a textura de uma superfície pela fricção de um instrumento (giz, lápis, etc.) sobre um suporte (folha de papel, etc.). Os sons ocasionados pelo ato do desenho são, então, captados por um microfone de contato preso ao lápis, com o acréscimo de camadas de atraso feitas por um pedal de efeitos. A obra perfaz a série Fricções/Tessituras, de 2024, que investiga questões relacionadas ao gesto, marca, lugar e memória. Thiago R é artista híbrido e arte-educador, trabalhando na intersecção do visual/sonoro. Vive e trabalha em São Paulo e é mestre em Artes pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Sua pesquisa articula relações entre som, imagem e contexto, através de instalações, peças sonoras, performances, partituras, desenhos etc. Recentemente, participou da coletânea de Arte Sonora Brasileira Make It Heard Vol. 5 (Berro, São Paulo, 2023); The Wrong Biennale, pavilhão Kamîm Tuhut - Sessão Encruzilhadas (online, 2024); e da coletânea de Música Eletroacústica Brasileira Mix-FOF-cv-bang! (online, Paraná, 2024).
21h
El Coloquio de Monos y Una (2024), de Germán Gras
Duração: 09’19”
A peça é baseada na história homônima de Edgard A. Poe. Através do emaranhado fonético, em que o texto de uma língua é pronunciado eletronicamente na fonética de outra língua, tenta-se fazer girar a percepção, destacando timbres inesperados. Essa experiência, um tanto comum entre os imigrantes, corre paralelamente ao que Poe expressa em seu texto, quando Monos, já morto, diz para Una que os sentidos se confundem – parte que, curiosamente, se expressa no português com a fonética da mesma língua, na parte final da peça. Doutor em música pela UFRGS, Germán Gras atuou como professor na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e na Universidade Federal de Rio Grande do Norte (UFRN), onde ministrou disciplinas de teoria e composição.
Meditar (2024), de Frontera Glaciar
Duração: 05’04”
Frontera Glaciar desenvolve produção e experimentação sonora nas quais constrói viagens e espaços sonoros ligados às paisagens e vozes naturais da Patagônia. Em abril de 2024, lançou seu primeiro EP Patio Nevado nas plataformas digitais, com três faixas para escuta gratuita. “Meditar” faz parte desta compilação de sons e vozes da Patagônia, entre elementos pessoais, espaços naturais e turísticos de Punta Arenas (Estreito de Magalhães, Plaza de Armas). Frontera Glaciar é um espaço pessoal onde Ignacio Núñez Oyarzo (Patagônia, Punta Arenas) experimenta e combina paisagens sonoras do território patagônico com diversas vozes. Sua linha de trabalho divide-se na criação de séries sonoras (arte radiofônica) e na experimentação sonora e performance ao vivo. Atuando como artista sonoro, produtor e DJ, Ignacio é bacharel em Educação (UMAG, 2015, Punta Arenas), pedagogo (UMAG, 2016, Punta Arenas) e mestre em Artes (PUC, 2020, Santiago do Chile).
Terramuda (2022), de Lucca Totti
Duração: 30’56”
terramuda
terra que
muda vibra
mudaterra vibra
terramuda
terra solta
fica
terraqueima fica
soa
terra que
terramuda
Terramuda é uma composição sonora do limiar entre sintético e orgânico através da manipulação de gravações de ambientes e objetos, em uma obra que torna audíveis outras dimensões da paisagem sonora. A composição e produção é de Lucca Totti, com masterização de Paulo Dantas. Lucca Totti é compositor, improvisador e pesquisador. Trabalha com temas de experimentalismos, improvisação radical, possibilidades sonoras expandidas da arte sonora e da fonografia, e criação contemporânea aberta. Já teve obras realizadas na Bienal de Música Brasileira Contemporânea, *Topia SoundArt Festival (Alemanha), Simpósio Internacional de Música Nova (Brasil), Monteaudio20 International Sound Art Festival (Uruguai), Centro de Arte Sonoro (Argentina), Festival Irradia 2023 (UFC-UFES), Festival Escuta Aqui!, Série Música? (USP), SomaRumor - Encontro Latinoamericano de Arte Sonora, Oficina de Música de Curitiba, entre outros. Atualmente é mestrando em Sonologia - Processos Criativos na Universidade de São Paulo.
Sludge (2023), de Luisa Meirelles
Duração: 07’12”
A cantora, compositora e pesquisadora procura traduzir por meio do campo sonoro um momento específico da sua gestação, quando soube de uma possível invasão bacteriana no útero, chamada “sludge”, a qual poderia comprometer o bom andamento da gestação. A compositora se propõe a retratar essa vivência em uma obra de caráter experimental, trabalhando com unidades sonoras e seus contrastes, rupturas e fissuras, construídos a partir do componente vocal. Este é compreendido como componente orgânico, captado em áudio através da exploração das vocalidades, gestos e performance da própria Luísa. Em oposição à organicidade da voz-corpo, a autora trabalhou também com ferramentas próprias do universo digital, como sintetizadores, samplers e baterias eletrônicas, constituindo assim o que se entende por componente inorgânico, artificial, dentro do contexto da peça. A voz é, portanto, o elemento que nos ancora ao corpo, que nos remonta ao humano, e que nessa obra em particular, se relaciona à plenitude e organicidade. O corpo em seu melhor funcionamento, a gestação fluindo organicamente. Do outro lado, o som inventado, que parte de um sinal digital, por isso mesmo não-humano, inorgânico, artificial, faz a vez do invasor, instalando-se subitamente e de maneira agressiva no corpo que gesta. Finalmente, “Sludge” é fruto da escuta de dois álbuns que serviram como referência para a compositora: Amazonas (1973) do percussionista e compositor Naná Vasconcelos e Medulla (2004), da cantora e compositora Björk. Luisa Meirelles é formada em canto popular pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com mestrado em música pela Unicamp, onde atualmente é doutoranda. Sua pesquisa se concentra atualmente na área de processos criativos, ancorando-se no campo sonoro e em experimentações vocais.
22h
CUERPOS MASTICADOS (2024), de Colectivo Masai Autónomo / osvaldo cibils
Duração: 60’00”
Programa de rádio com IA. Ação sonora/fonética, butoh sci-fi. Drama com o cozinheiro, sua mulher grávida e o engenheiro com termostato. Aqui não há canhões, nem soldados, nem esperanças. Aqui há ruídos que respiram, gente que sabe, vibra ou chora. Corpos mastigados, cenas tristes, paredes inclinadas e objetos eletrônicos umedecidos. O Colectivo Masai Autónomo foi fundado em 2022 para a criação e produção de diversos projetos com recursos cotidianos de inteligência artificial. osvaldo cibils (Uruguai, 1961) é um artista em desenhos e obras audiovisuais.
23h
Sinfonia Eletroacústica de Interlúdios Pós-Capitalistas (2024), de Rafael de Toledo Pedroso
Duração: 24’02”
Composição eletroacústica que oferece uma experiência imersiva, refletindo sobre os interlúdios na sociedade pós-capitalista. A obra explora como os intervalos publicitários se tornaram parte da vida cotidiana e da nossa experiência coletiva. Sons de intervalos de TV e rádio dos últimos cinquenta anos no Brasil se misturam com música experimental tocada por um quarteto (sopro, cordas, teclas e percussão). A obra destaca a estrutura fragmentada e não linear do consumo de mídia moderno, sugerindo que os humanos desenvolveram um gosto ritualístico pelos intervalos publicitários ao explorar as camadas simbólicas desses intervalos. A inspiração para esta obra surgiu há quase uma década, ao assistir ao filme Um Dia na Vida de Eduardo Coutinho, imaginando algo similar para a arte sonora e música eletroacústica. O compositor Rafael de Toledo Pedroso é natural de Petrópolis (RJ) e transita entre as artes visuais, a produção musical, a performance e a escrita. Vencedor do 3º Concurso Literário Deriva, do 12º Salão de Artes Visuais de Ponta Grossa e do Concurso de Fotografias Moisés Pregal.
árvore a4 (2024), de Ícaro Tavares
Duração: 06’38”
Explorando possibilidades através do gesto e das próprias características e comportamentos dos sons, numa colagem e manipulação eletroacústica, o artista fez esta composição a partir de uma folha de papel, um serrote, e uma tesoura. O que começou enquanto exercício de entreouvir as possibilidades do material, foi se tornando uma espécie de povoamento do espectro sonoro, e o que produz seus atritos e diferenças. O trabalho foi motivado pelos encontros com o grupo de compositores voltado à música eletroacústica, intitulado Cantos Diversos e ligado à Universidade Estadual do Ceará (UECE), onde o artista faz bacharelado em Música. Ícaro Tavares é músico interessado em pesquisa e criação de uma música experimental e música eletroacústica que não esteja separada das outras artes de realizar sons.
Oficinas do Convento: A Sala do Capítulo do Convento de São Francisco, em Montemor-o-Novo, desenhada a Foice (2023), de Joao Farelo
Duração: 21’18”
Alentejo, 2023. Ciclo sobre o tema “Cantiga da ceifa”, também conhecido por “Por riba se ceifa o pão”, cantado em Penha Garcia, por Catarina Chitas, na transição entre os anos sessenta e setenta do século passado. Recolha de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça. A reprodução e gravação da reprodução da gravação anterior, por nove vezes consecutivas, no Capítulo do Convento de São Francisco, em Montemor-o-Novo. O som direto ao longo de cada iteração, um voo planado como o desenho de uma sala, no último dia de Primavera do corrente. João Farelo é artista sonoro e visual. No seu trabalho procura o encontro entre elementos da paisagem, uma escuta coletiva com o território.
00h
Whispers of the fluttering dream (2024), de Juice Cui
Duração: 08’16”
Experimento sonoro com participação ao vivo de Zheng, em colaboração com Rosie Zhang, e improvisações com eletrônica, ruído de rádio, gravações de campo e composições eletroacústicas feitas de gravações de violino e piano elétrico. Ele se inspira no conto filosófico de Zhuang Zhou Meng Die (“Zhuang Zhou e o Sonho da Borboleta”). Nesta história, o filósofo Zhuang Zhou sonha em ser uma borboleta, felizmente inconsciente de sua verdadeira identidade até que ele acorda, percebendo que ele é Zhuang Zhou. O momento mais marcante vem depois do minuto 03’59”, quando a eletrônica ao vivo interage com Zheng acústico, evocando um estado de sonho lúcido entre a realidade e a fantasia. Como artista multidisciplinar, o trabalho criativo de Juice abrange múltiplas dimensões de expressão artística, começando com pinturas e ilustrações clássicas bidimensionais, avançando para o reino de curtas-metragens e esculturas contemporâneas tridimensionais e, finalmente, alcançando a quarta dimensão caracterizada pelo design de som espacial e manipulação de mídia digital. Seu trabalho recente baseado em som investiga o equilíbrio e a colisão de sons e ruídos prazerosos, desorganizados e estruturados dentro de composições. Ela valoriza o artesanato em vez da produção rápida e mecânica, acreditando firmemente no poder se sua voz: “Sempre acredito: tenho uma voz. No futuro, alguém pode ouvir você”. A liberdade de criação é uma busca contínua em sua vida. Juice Cui vê a criatividade como um meio de contribuir para o futuro, em vez de mera autoindulgência.
Una cita a ciegas (para no soltarnos) (2024), de Ana María Romano G.
Duração: 36’23'”
Grande entrelaçamento entre pessoas que fizeram parte do programa de rádio Sonar y conspirar, espaço radiofônico produzido pela Plataforma Feminista En Tiempo Real (Bogotá, Colômbia) e transmitido pela Rádio CASo (Buenos Aires, Argentina), de 2020 a 2024. A artista a compôs acompanhada das pessoas que participaram dos diversos programas durante as cinco temporadas, pensando nisso como um abraço de solidariedade e apoio a seus amigos argentinos (por nacionalidade ou por adopção) neste momento em que as decisões políticas afectam significativamente os direitos das pessoas. No campo cultural, muitos projetos foram encerrados, incluindo a Rádio CASo. A obra também é um feitiço para espantar vibrações ruins e convocar bons momentos, para manter a esperança e para aquecer nossos corações e vidas. Pensando nisso, a artista os convidou a participar com uma mensagem de voz. Quem mora fora da Argentina foi convidado a citar nomes dos artistas cujas músicas foram tocadas nas cinco temporadas do programa. Trabalho montado em companhia e para nos acompanhar, para nos sustentar. Também há trechos tanto do concerto de improvisação feito na Rádio CASo, transmitido ao vivo em 28 de setembro de 2022, quanto de de shows e gravações sonoras recentes da autora. Ana María Romano G. é compositora, artista sonora, professora e pesquisadora colombiana. Os seus interesses criativos situam-se na intersecção entre som e tecnologia com questões de escuta, espaço, corpo, gênero e sexualidade, improvisação e experimentação, paisagem sonora, ruído, relações interespécies, erótica, afetos, as dimensões políticas na criação. Trabalha com mídias acústicas e eletroacústicas e criação em áreas como instalações, vídeo, artes cênicas e rádio. Espaços coletivos e colaborativos são fundamentais na sua vida. É professora da Universidade El Bosque, coordena a Plataforma Feminista En Tiempo Real, é cofundadora da plataforma Paisajistas Sonoras e membro da Rede de Compositores Latino-Americanos - redcLa- e GexLat [Génerx Experimentación Latinoamérica].
Sound Thought 3 (2024), de Paul Beaudoin
Duração: 07’38'”
Obra apresentada em diferentes instalações em Glasgow (Escócia) e Colônia (Alemanha). A peça explora os detritos da Terra pós-apocalíptica. Usando microssons, falhas (glitch) e paisagens sonoras silenciosas e de evolução lenta, Sound Thought 3 evoca uma sensação de admiração, medo e espanto — e talvez até mais. Paul Beaudoin é um artista interdisciplinar globalmente reconhecido, vivendo atualmente em Tallinn, na Estônia.
Comentários