15h
Memórias de Zahra (2016), de Janete El Haouli & José Augusto Mannis
Duração: 17'52"
Peça radiofônica composta em homenagem à jovem imigrante libanesa Zahrah Jahjah Malouf. Ela deixou sua terra natal, radicando-se definitivamente no Brasil em 1948, onde viveu e criou seus filhos. Nascida em 1918 em Zahle, entre as montanhas do Líbano e o planalto de Bekaa, Zahrah trouxe consigo apenas as memórias de seu longínquo país, ao qual nunca mais retornou. Nesta peça escutamos uma história que pode ser sentida por todos aqueles que imigraram e ainda imigram nos dias de hoje. Sua voz, fragilizada por uma doença em estágio avançado, é mais que um veículo de linguagem verbal: é um canal de afetos, com lembranças de sua vida, marcada por muitas perdas, mas sobrepujada por alegrias vividas ao construir sua família e sua vida num novo país, inicialmente estranho, mas que se mostrou acolhedor e se tornou sua nova casa. O relato original foi gravado por Janete El Haouli, filha de Zahrah, em 31 de julho de 1998, um mês antes do falecimento da mãe. Expressa em ideias e pensamentos articulados em gestos e representações sonoras, a narrativa resulta de jogos polifônicos a partir do depoimento original, ao qual se acrescentam uma legenda sonora em inglês, gravada por sua neta Maya El Haouli Santos, filha de Janete, e tramas sonoras estruturadas e agenciadas por minuciosa edição, processamento e montagem. As paisagens sonoras na obra foram imaginadas e compostas pelos autores com base em informações sobre os locais de origem. As músicas correspondem ao repertório dos discos que escutavam no quotidiano, que juntamente com a sintonia de rádios libanesas em Ondas Curtas permaneceram os únicos elos sonoros com sua terra natal, além de cartas e leituras de Khalil Gibran. A peça é uma composição da musicista, artista sonora e produtora cultural Janete El Houli, e de José Augusto Mannis, mestre em Música pela Universidade de Paris VIII.
meus demônios cantam canções de ninar (2019), de clau aniz
Duração: 03'30"
Faixa criada a partir de experimentações com ferro e barro. Versa sobre espectros, pesadelos e a travessia invisível das noites intranquilas. Clau Aniz é artista multilinguagem, compositora, cantora, mestre em Artes pela Universidade Federal do Ceará e atua como instrumentista em Fortaleza. Desde 2015, realiza e colabora em diversos projetos artísticos, passeando entre composições de sonoplastia para teatro, trilhas para cinema, instalações e apresentações musicais. Lançou em 2018 o álbum Filha de mil mulheres e, em 2019, o single Iuá Uru. Atualmente, trabalha em composições para audiovisual, teatro e dança, e participa dos grupos Vacilant, Dronedeus e ATERRA FLECHA.
The Day After the Parade (2019), de Jordan Zalis
Duração: 06'38"
Experimento de pesquisa-criação e uma colagem contrapontística de rádio/áudio a partir de trechos de entrevistas etnográficas e gravações de campo feitas em torno dos jogos do time de basquete Toronto Raptors, durante a temporada 2018/2019 da NBA. Os Raptors é o único time do Canadá na liga norte-americana de basquete e o único com sede fora dos Estados Unidos. A peça de arte sonora pretende evocar o impasse enfrentado pelos torcedores dos Raptors quando o grito de guerra "Nós somos o Norte" ("We The North") convocou, de fato, milhões de pessoas ao centro de Toronto para comemorar. Esse novo norte fez um desfile de perturbação, força e orgulho pela paisagem urbana mais densamente povoada do Canadá, localizada na fronteira sul do país—distante do remoto e bucólico norte, território tradicional dos Inuits e indígenas. Como prova de conceito e exercício crítico, The Day After the Parade é uma resposta contemporânea à icônica peça radiofônica de Glenn Gould, The Idea of North, criada para a Canadian Broadcasting Corporation em 1967. Jordan Zalis é doutorando de etnomusicologia da Memorial University of Newfoundland, Canadá. No mestrado, recebeu o Prêmio Helmut Kallmann de Pesquisa em Música Canadense. Com apoio do Conselho de Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas do Canadá, sua pesquisa está na interseção entre o som, a música e o esporte.
Mantém o selo musical Suplex Music e a editora [xlds].
Walden #3 (2023), de Luiz Guilherme Fonseca
Duração: 05'15"
Sons prosaicos da vida familiar estressados pelo caráter úmido e oxidativo dos sons da natureza, num processo de dupla-corrosão: os sons da natureza mastigando a casa, os sons da casa trazendo à tona espectros que habitam a floresta. As captações foram feitas durante imersão na Kasa Rádio Cosmos, na Área de Proteção Ambiental de Macaé de Cima, no Rio de Janeiro. Luiz Guilherme Fonseca é escritor, tradutor e doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio.
Dissonâncias na sala ressonante (para Alvin Lucier) (2015-2023), de Thiago R
Duração: 09'55"
Neste trabalho, o artista sonoro e arte educador Thiago R reflete sobre os métodos de gravação e reprodução sonora na era atual dos dispositivos digitais. Para isso, usa como homenagem a estratégia utilizada pelo compositor Alvin Lucier na peça “I am sitting in a room”, de 1969. O autor é mestre em Artes pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), e vive e trabalha em São Paulo.
After Nature (Triste-vida), 2019, de Franz Manata e Saulo Laudares
Duração: 11'57"
Peça sonora composta a partir de sons de pássaros captados em áreas verdes urbanas pelo duo, formado em Belo Horizonte e hoje residente no Rio de Janeiro. Realizada desde 2010, a série After Nature investiga a ecologia acústica e sonora e os modos de viver em um mundo mediado pelas experiências sintéticas e também permeado pela memória da tradição. O trabalho faz parte da instalação de mesmo nome, presente no acervo do Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia (MuBE), em São Paulo. O duo Manata Laudares iniciou atividades em 1998 e compõe suas obras a partir da observação do universo, do comportamento e da cultura da música contemporânea, principalmente a eletrônica.
16h
Rádio Transmitter - Radionovela Cleopatra (2022), de Júlia Rosa e Lucas "Claus Canddie" Venceslau
Duração: 08'33"
Uma rádio aparentemente clandestina inicia sua primeira transmissão. O apresentador informa que o "estúdio" recebeu o episódio piloto de uma radionovela feita pela A.R.R.E.G.A. (Associação Radiofônica Radical de Estudantes Galhofeiros de Alvorada) como presente de inauguração da rádio. A obra foi realizada em disciplina do curso superior de Tecnologia em Produção Multimídia do IFRS - Campus Alvorada. A radionovela foi produzida por uma equipe de estudantes, tendo direção de Júlia Rosa, escrita de Lucas Venceslau, produção de Vanessa Fritz, assistência de direção de Gabriel Arnhold, gravação de Maria Carolina de Lima e edição e mixagem de som de Lucas Venceslau e Gabriel Arnhold.
Lusco-Fusco (2018), de Lilian Nakao Nakahodo
Duração: 06'00"
Obra criada a partir da combinação entre sons sintéticos e processamento em side-chain — uma técnica que permite que o sinal de um canal interfira ou controle o sinal de outro canal. Lusco-fusco se inspira nos contrastes entre luz e sombra e nos ritmos que surgem da relação entre eles no cotidiano. Lilian Nakahodo é pianista, compositora e produtora musical radicada em Curitiba. Transita entre o instrumental e o experimental, com influências do jazz brasileiro e de artes sonoras contemporâneas. Graduada em Produção Sonora e mestre em Música pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), atua em diversos projetos musicais, como o Coletivo PIANOVERO e Sons Nikkei. Além disso, dedica-se à criação de trilhas e de desenho de som para espetáculos e conteúdos audiovisuais.
Random Fields - Field 1 (2020), de DJ Paisagem
Duração: 06'00"
Peça integrante do álbum gravado em 2020, durante o projeto EM MISSÃO, performance mensal mascarada de emissão de rádio, com duração de 24 horas, em Portugal. A obra foi produzida por uma das personagens que compõem o imaginário do projeto, Dj Paisagem, também conhecida como Tristão Paisagem. Tristão é um software com inteligência artificial, e o álbum acabou tornando-se uma viagem pela internet, com outras formulação a sons de vídeos encontrados pela net afora, seguindo a força do algoritmo. A performance disfarçada de transmissão de rádio foi orientada por “A CANALHA”, coletivo de artistas independentes. A participação de diferentes emissários, que mostram suas produções ao longo da obra, também é de extrema importância.
Solos Sonoros - Capítulo 01: Coração (2021), com direção de Andréia Paris
Duração: 13'26"
Primeira das quatro peças radiofônicas inspiradas em contos de Marcelino Freire. Cada solo apresenta um personagem que conta um pouco sobre sua vida, seus sonhos e suas lutas. São personagens fictícios, mas com forte inspiração na realidade. Andréia Paris é atriz com doutorado em Teatro pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Gabriel Angelo é ator e produtor, formado pela Universidade Regional do Cariri (URCA) e mestrando pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Gisele Lua, Jordlyane Almeida e Raniele Lessa são atrizes, graduadas em Teatro pela URCA.
Sinfonia Portuguesa (2015), de Léo Perotto
Duração: 21'35"
Obra que apresenta uma mescla de sons, ruídos e criações sonoras catalogadas pelo autor durante um curto período em que esteve em jornada acadêmica na cidade do Porto, em Portugal. Esses sons foram posteriormente arranjados de maneira similar a uma colagem visual, mas entremeados por pequenas criações musicais. Durante os processos de edição, foram incorporados alguns efeitos sonoros, dando maior profundidade a determinados momentos vividos e evocando um espírito secundarista à obra, já que esta foi vivenciada pelo autor dentro de uma escola portuguesa. Leonardo Luigi Perotto (aka Léo Perotto) é graduado em Artes Visuais e Música, com doutorado em Artes e Educação pela Universidade de Barcelona. Seu trabalho apresenta diferentes interfaces entre artes visuais e a música baseados na performance cultural. Atualmente é professor na Fundação Cultural de Palmas, no Tocantins, onde coordena o Núcleo de Cordas Dedilhadas.
17h
Re-envolvimento (2023), de Abraão Felipe Marques de Oliveira e Maria Fernanda de Oliveira Ruas
Duração: 16'12"
Documentário que busca discutir como a atividade da mineração no Brasil está baseada em uma lógica extrativista eurocolonial que atua subtraindo toda forma de vida dos territórios. Além disso, levanta o debate sobre como a mídia atualiza a violência colonial contra comunidades negras e indígenas. A obra é resultado de disciplina do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os autores são bolsistas da CAPES, mestrandos na linha de pesquisa Comunicação, Territorialidades e Vulnerabilidades.
Provação incontida (2020), de Alex Hamburger
Duração: 02'03"
Obra em que o artista toma a poesia como uma ideia física, estando convicto de que é primeiro como matéria que a verdadeira poesia se impõe. Para ampliar o alcance de suas instrumentações e experiências poéticas ligadas ao aparelho fonador humano, ele buscou referenciais como a ideia de "poesia física"de Gil J. Wolman e o poema sonoro “O corpo”, de Henri Chopin. Embora tenha dúvidas sobre as capacidades da poesia sonora, Hamburguer se identifica com suas características expansivas e considera o postulado de Dufrêne: “poesia sonora está afundada na infância, ela é infantil, e isso é a sua força”. Alex Hamburguer iniciou suas atividades no início dos anos 1980, tendo seus interesses e investigações voltados para as possibilidades de fusão e entrecruzamento de linguagens, desenvolvendo trabalhos em poesia verbal, visual e sonora, poema-objeto, livro de artista, entre outras. Participou de exposições coletivas e individuais, no Brasil e no exterior, e publicou oito livros em variados gêneros poéticos, áudio-cassetes e CDs de poesia sonora. Em 2020, a convite da editora alemã Errant Bodies Press, lançou Antilogy, uma antologia de poemas em verso, prosa e visuais traduzidos para a língua inglesa.
Potências do Sonoro 1968-1990-2016 (2016), de Amiantus
Duração: 02'22"
Colagem de falas de quatro personagens, conectando os anos de 1968, 1990 e 2016. Uma fala do filme Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, abre a reflexão sobre a política. Na sequência, o pensador negro Jorge Vasconcellos fala de resistência durante uma entrevista no movimento Ocupa MinC, nos tempos do governo Temer. O áudio vazado do senador Romero Jucá é lido por uma voz artificial, seguido pelo áudio em si, e o artista Leonilson comenta sobre sua própria poética, no início da década de 1990. Potências da palavra falada, imantada, encantada, vazada e escancarada. Marcelo Wasem, o Amiantus, é artista visual, músico e docente do curso Som, Imagem e Movimento, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
XÊPA (2020), de Andre Perim
Duração: 03'24"
Trabalho de arte sonora realizado a partir de gravações de campo em feiras livres no Rio de Janeiro, pelo artista multimídia Andre Perim. Xêpa foi apresentado nos festivais Ecos Urbanos 2021 (México), La Hora Acusmatica 2022 (Argentina), Eneagrama Festival 2022 (Argentina), Transversal Sonora 2022 (Argentina) e Chigiana Radioarte VII 2023 (Itália).
Abgesang (2022), de Gloria Damijan
Duração: 30'49"
Obra baseada em gravações de campo de cantos de pássaros e paisagens sonoras captadas durante caminhadas em florestas e ao longo de rios, misturadas com sons de pianos de brinquedo, instrumentos de percussão e outros objetos. Trata da fragilidade dos habitats naturais e das emoções ligadas a esta experiência. Abgesang também explora a influência de estruturas aleatórias em paisagens sonoras ambientais e as estruturas rítmicas de cantos de pássaros específicos em ideias composicionais e fluxos de trabalho. Os cantos dos pássaros usados nesta peça são de espécies norte-americanas de um habitat de pradaria e antigas terras agrícolas em Wisconsin (EUA). Seus proprietários realizam um monitoramento de áudio como parte do projeto Ears In the Driftless, que visa restabelecer espécies ameaçadas de extinção. Inspirada nesses áudios, a artista fundiu esses sons a gravações de áreas austríacas, principalmente os Bosques de Viena (Wienerwald), captadas em zonas protegidas dedicadas a projetos de restabelecimento da biodiversidade. Gloria Damijan é pianista, tocadora de piano de brinquedo, compositora e artista sonora. Nascida e residente em Viena, ela se interessou por música contemporânea e improvisada quando estudava piano e pedagogia musical na Universidade de Música de Viena. Colabora com muitos músicos, inclusive brasileiros. Desde 2020, especializa-se em telemática e performances de formatos híbridos.
18h
Te benzo, te curo - Episódio 1: Raízes (2022), de Beatriz Reis de Oliveira
Duração: 14'30"
Série que narra a história das benzerias do distrito de Piri, pequena comunidade do interior da Bahia. Misturando saberes populares, religiosidade e plantas medicinais, a benzeção é uma prática social que ajuda na cura de males físicos e espirituais. Essa tradição tem tido cada vez menos adeptos devido aos avanços tecnológicos. Da necessidade de manter a cultura popular viva, surgiu, em 2022, o documentário com as vozes dos protagonistas dessa prática. A obra é resultado do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da autora, pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Beatriz atuou em rádio como produtora e apresentadora, migrando do rádio para a TV, onde trabalha como repórter. Sempre apaixonada pelo áudio, mantém viva a admiração pelo veículo e sua força de informar, formar e encantar.
Fuego del descubrimiento (2023), de Luis Bravo e Federico Eisner
Duração: 05'38"
Já que há coisas que a voz não pode fazer, como forçá-la a fazê-las sem recorrer a vários meios, como a anatomia ou a tecnologia, para modificá-la? Esta obra trabalha exclusivamente com montagem e sobreposição, sem recorrer a modulações espectrais ou dinâmicas, porque interessa explorar até onde se pode levar a própria prática vocal como uma agência estendida. Nesta peça, escutamos 130 sobreposições do mesmo poema sonoro de Luís Bravo, Descubrimiento del Fuego, de 2009. O começo tem entradas variáveis muito próximas e pausas de entradas, que transformam-se simetricamente em pausas de saída. Para definir esse número tão extremo de sobreposições, a quantidade de gestos identificados foi tomada de forma que cada um deles fosse repetido tantas vezes quantos fossem os gestos. O convite nesta intervenção é pensar também no que a voz faz como uma assemblagem agenciadora de nossa cultura. Um agenciamento que estamos tão profundamente predispostos a ouvir, que o reconhecemos mesmo nas mais extremas dissecações ou nas mais tempestuosas sobreposições. Luis Bravo é poeta, performer, ensaísta, investigador, professor universitário e doutor em Letras pela Universidade de Notre Dame. Vem realizando leituras e performances em festivales Internacionais e em universidades de todo o mundo. Federico Eisner Sagüés é músico e poeta, mestre em musicologia pela Universidade de Chile e doutor em artes pela Universidade Católica de Chile. Em 2015, recebeu o prêmio Cátedra Pablo Neruda por sua tese Alturas de Macchu Picchu como Hecho Musical, publicada pela Fundación Neruda em 2017). É autor do livro/disco Tareas Fonatorias (2022) e membro fundador da Orquestra de Poetas e do Festival de Poesia e Música PM.
Eu deusabo (2017), de Daniel Leão
Duração: 03'11"
Esta obra surge da edição de áudio a partir da palavra de corpo-mole “Deusabo”, do filme Deus e o diabo na terra do sol (dir. Glauber Rocha, 1964), e da gravação das vozes de Djuly Gava e Daniel Leão. Deusabo, substantivo masculino. Condição daquele que tem dentro de si deus e o diabo. Momento em que, estando prestes a alcançar um feito extraordinário, deixa-se tudo escapar, desabando impetuosamente.
Desfazer (2022), de Arlon de Serra Grande
Duração: 00'29"
Vocalização de Desfazer, um poema-cartaz-releitura de um texto de Augusto de Campos. O autor nasceu na região da Serra Grande, no estado do Ceará, em 1996. Experimentou todas as linguagens possíveis, mas encontrou na poesia a possibilidade de juntar a totalidade em uma só. Desde 2020, faz pesquisas no ramo da iconografia e da acústica poéticas.
Gaveta 1 (2020), de Taticocteau
Duração: 13'00"
Na psicologia, o conceito de "gavetas" é frequentemente utilizado para descrever o mecanismo de segregação mental de informações, emoções ou experiências em compartimentos separados. As pessoas muitas vezes colocam suas emoções ou memórias difíceis de lidar em "gavetas", para evitar lidar com elas imediatamente. No entanto, essas emoções não resolvidas podem ter impacto negativo no bem-estar psicológico a longo prazo. O termo é usado metaforicamente para explicar como alguns indivíduos lidam com suas complexidades internas. Quando resolvemos abrir essas essas “caixas-de-Pandora” nos deparamos com nossas fobias, traumas, memórias em estilhaços que são permeadas por sentimentos contraditórios. Esse relicário sonoro, constituído por pseudo-instrumentos do GarageBand, imagens sonificadas por databending via Audacity e samples de faixas em MP3 corrompidas no Notepad ++, criam uma paisagem sonora em retalhos ruidosos. Taticocteau é artista visual no campo expandido, trabalhando com plataforma multimídia (vídeo, databending, colagem digital e analógica, fotografia, desenho e pintura). Tem álbum publicado pelo selo Música Insólita, participou de festivais de música experimental e arte sonora como: F(r)esta Festival de Improvisação, Frestas Telúricas, Festival Chiii e Novas Frequências.
<dactilo.coding-sonografia:_manuscrito repulsivo de devoção ergonômica à escrita sonora pela máquina> (2023), de Eric Barbosa
Duração: 12'19"
Ação radioasta performática sonora que consiste na estruturação e tensionamento acústico, ergonômico e sonoro das máquinas de escrever (escrita) nas ambientações físico-acústicas dos tradicionais espaços de trabalho e suas históricas relações de precarização. As origens dessas relações levaram gerações de operários e operárias a sofrer de disfunções auditivas, psicossociais, distúrbios osteomusculares e patologias motoras. Esta peça sonora alia música computacional algorítmica (#livecoding) com artefatos de escrita criados através de linguagem de programação, aliados a alterações mecânicas de engrenagens nas tradicionais máquinas de escrever. As peças sonoras colidem com os conflitos impositivos da atual geração de programadores (desenvolvedores), como uma geração sucessora das antigas precarizações de trabalho. O trabalho de pesquisa é desenvolvido pelo compositor, produtor, educador e artista multimídia Eric Barbosa. Possui vinte obras digitais editadas, além de produção constante em mostras de dança, performance, audiovisual, videoarte e instalação. Desenvolve e atua em projetos como ADSR, Sampleology, Sound Crafts, Gambiarra Tecnológica, Larten - Laboratório de Arte do Espectro Neural, Circuito Latino-Americano de Performance e Arte de Imagem e Instalação Sonora Percurso. Atualmente, realiza projetos arte, ciência e direitos humanos na Abrigo Plataforma, em Fortaleza.
19h
Os relatos das Grandes Águas (2022), Oriana Stiuv, Vinicius Boita, Giovana Ribeiro e Francisco Criollo
Duração: 13'37"
Um grupo de jovens amigos se reúne às margens do Rio Iguaçu. O encontro levanta curiosidade sobre a história daquele lugar. No decorrer das conversas, mergulham em uma viagem ancestral, em que conhecem as lendas da origem das Cataratas do Iguaçu. A equipe de produção vem em peso do Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Oriana Stiuv, venezuelana radicada no Brasil, atuou na assistência de arte, direção e direção de fotografia de vários curtas-metragens universitários e também como coordenadora de produção de animação da série infantil Vamos Brincar com a Turma da Mônica, de Maurício de Sousa. Atualmente, é coordenadora de animação na segunda temporada da série Tainá e os Guardiões da Amazônia. Francisco Criollo, venezuelano no Brasil, foi diretor de som nos curtas Efêmero (2019) e Corpos Lavados (2019). Vinícius Boita, gaúcho e apaixonado pelo universo sonoro, produziu o podcast jornalístico Diálogos de Fronteira (2022), realizando a captação e edição de som. Giovana Ribeiro, iguaçuense, é produtora do curta Queda (2023), que estreou no circuito da SP Cine e participou da Mostra de Curtas da Perifacon 2023. Foi assistente de arte no curta-metragem Fronteriza (2023) e de produção de animação da série Vamos Brincar com a Turma da Mônica. Atualmente, é coordenadora de criação na agência Eleva Comunicação, atuando na área de edição de vídeo.
Súplica ao Silêncio (2021), de Marcelo Armani
Duração: 06'24"
Peça sonora composta por manipulação e síntese de áudio com o auxílio de interfaces analógicas e digitais. A obra traz camadas de sons/ruídos captados de um respirador mecânico e a apropriação do áudio de alguns dos depoentes à CPI da Covid. Ao longo de seus seis minutos e vinte e quatro segundos, texturas e atmosferas surgem e preenchem o plano sonoro. As vozes dos depoentes, algumas com manipulação da velocidade original, cruzam esse mesmo plano e, ao fim, são ancoradas sobre a base sonora do respirador mecânico. Tal peça expressa não só a crítica, mas também a indignação do autor em relação à postura calada de um apanhado de pessoas que representam as mais diversas hierarquias presentes nas camadas financeiras, sociais e institucionais de um país que se volta a estratégias do passado, levando de arrasto a voz da maioria da sua população. Pessoas que se voltam às estratégias do passado. Marcelo Armani é artista sonoro, técnico de som direto em projetos cinematográficos, compositor e músico improvisador eletroacústico. Sua trajetória se insere no campo da arte sonora, transitando por múltiplas linguagens com a produção de dispositivos híbridos, peças e instalações sonoras multicanais. Seu campo de pesquisa reside na prática escultórica do som, compondo texturas e camadas com o uso de novas tecnologias, explorando volumes, texturas, granulações e densidades. Em ações ao vivo, esse material é gerado partindo da utilização de sintetizadores, sequenciadores, superfícies amplificadas e samplers de paisagens sonoras que são manipuladas com recursos para iPAD.
O Que Não Está (2022), de Fronte Violeta & Martha Kiss Perrone
Duração: 35'51"
Peça radiofônica binaural (#atenção: use fones de ouvido para uma melhor apreciação). Partindo de diferentes cosmologias sonoras, uma combinação de vozes e vibrações ocupam e infiltram-se em espaços estéreis de arquiteturas emblemáticas, produzindo uma fricção e um contraste entre mundos. Sonoridades que antes eram dissidentes, subterrâneas ou invisíveis nas narrativas dominantes, manifestam-se juntamente com forças não humanas em uma revolta sonora. Nascido em rupturas, brechas e fissuras, o som é uma presença do invisível, que produz vida e evoca memórias capazes de transmutar estruturas. Em um contexto de narrativas de fim do mundo, O Que Não Está provoca a possibilidade de um contato que desencadeia novas percepções de escuta do que está ausente: narrativas, corpos e tecnologias que sobreviveram aos desastres, compondo-se e decompondo-se pela diferença. O contato entre humano e não humano, entre matéria inerte e viva, lembra-nos que tudo está em contato com todo o resto. Um terreno fértil nasce no entrelaçamento das práticas de 5 artistas. Sonoridades eletrônicas e eletroacústicas, palavras e cantos que transitam entre o português, o tukano e o iorubá. A linguagem como vibração, gesto e reverberação, como forma de desafiar significados e entendimentos. A instalação sonora site specific “What Is Not / O Que Não Está” foi comissionada pelo CTM Festival e pela emissora de rádio Deutschlandfunk Kultur. Fronte Violenta é um duo de São Paulo formado pela artista multidisciplinar Anelena Toku e pela musicista e artista sonora Carla Boregas. Desde 2015, desenvolvem uma investigação experimental do som em relação aos outros sentidos e linguagens, permeadas por um contínuo interesse em restaurar e despertar a sensibilidade a partir de um diálogo com o mundo natural. Recentemente, desenvolveram a vídeo performance Transitional State em parceria com Nelly-Eve Rajotte durante a residência no projeto AMPLIFY D.A.I., com exibição no festival canadense MUTEK. Martha Kiss Perrone é diretora, atriz e dramaturga. Suas criações envolvem teatro, performance, dança e cinema. É integrante da coletivA ocupação, grupo formado por estudantes e performers que se conheceram durante as ocupações do movimento secundarista em São Paulo. Dirige espetáculos e atua em filmes, curtas-metragens e videoclipes. Atualmente, colabora no projeto Antígona na Amazônia, do diretor suíço Milo Rau.
20h
Muamba - Documentário "Festa de Batuque" (2023), de Everton Cardoso, Mariana Sirena, Luiz Augusto Lacerda, Helena Cattani e Jênifer Tainá
Duração: 01:10:23
Rádio documentário sobre Festa de Batuque, um dos mais antológicos desfiles da história do carnaval de Porto Alegre. A Sociedade Beneficente Cultural Bambas da Orgia, mais antiga escola de samba em atividade da cidade, levou para a avenida, em 1995, a temática do Batuque, religião de origens africanas praticada no Rio Grande do Sul. A mítica em torno desse carnaval foi construída ao longo dos anos tanto por quem vivenciou aquele momento, quanto por quem ouviu relatos sobre ele ou teve contato com o samba-enredo. A produção é dedicada à memória desse desfile, que acima de tudo registra, revive e perpetua um momento muito singular da valorização da cultura negra do estado, trazendo um samba-enredo que se tornou inesquecível, e que fez com que aquele carnaval não terminasse na Quarta-feira de Cinzas. Uma série de integrantes da escola relembram a festa, e pesquisadores dão depoimentos sobre esse episódio. A produção aborda o lugar do carnaval na cultura da capital gaúcha e celebra a arte das escolas de samba locais por meio de uma costura de entrevistas com paisagens sonoras, descrições, leituras de documentos e sons de transmissões feitas à época. O documentário foi produzido pela equipe do programa Muamba, da Rádio da Universidade, primeira emissora universitária brasileira, ligada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Everton Cardoso é jornalista, doutor em Comunicação e Informação pela UFRGS, editor do Jornal da Universidade e apresentador do programa Muamba. Mariana Sirena é jornalista, mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS produtora cultural na Rádio da Universidade e produtora do programa Muamba. Helena Cattani é arquivista, historiadora, mestre em História pela UFRGS, professora do IFRS - Campus Porto Alegre e apresentadora do programa Muamba. Luiz Augusto Lacerda é carnavalesco, artista, produtor cultural, figurinista, cenógrafo, graduando no Bacharelado em Artes Visuais na UFRGS e apresentador do programa Muamba. Jênifer Tainá é graduanda em Jornalismo pela UFRGS, bolsista da Rádio da Universidade e colaboradora do programa Muamba.
21h
Linguagens Visuais no ar (2013), de Carlos Eduardo Dias Borges
Duração: 05'00"
Programete que descreve a arte no rádio, com apresentação dos artistas e pesquisadores, com foco na acessibilidade aos deficientes visuais. Este episódio destaca a(s) fala(s) Gisele Ribeiro, que participou da exposição Disparidades, na Galeria de Arte e Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo (GAP-UFES). O programete foi transmitido entre 2011 e 2014 na Rádio Universitária FM 104.6, emissora ligada à UFES, com coordenação de Carlos Eduardo Borges, professor da UFES e mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A torre (2022), de Thais Barreto
Duração: 02'43"
Radioarte em mp3, 320kbps. Composição de paisagem sonora com gravações de campo, trazendo ritmos e elementos absorvidos na cidade; elaboração com o ruído da matriz de uma paisagem cotidianamente construída para ruir. Thais Barreto é praticante de escuta ativa. Utiliza técnicas híbridas de áudio como brinquedo para sugerir a escuta. Entusiasta da arte sonora como ferramenta transformadora da experiência corpo-espaço, registra trânsito e mescla objetos, símbolos e marcas sonoras em proposições narrativas sobre transitar.
Impromptu 1#: Sobre as Cigarras (2020), de Daniel Tamietti
Duração: 06'39"
Obra de arte acústica que conta com a parceria das cigarras da região de Brumadinho. O termo impromptu, que no português equivale a improviso, era costumeiramente utilizado no século XIX para se referir a peças escritas para piano. Foi muito explorado por nomes da primeira geração de compositores românticos, como Schubert e Chopin. Nesta obra, o improviso é das cigarras das matas de Casa Branca, em Minas Gerais. Daniel Tamietti é violoncelista, improvisador, compositor, arranjador e mestre em música pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Já integrou a Academia da Orquestra de Ouro Preto e sua área de atuação se divide entre arte experimental, repertório tradicional de concerto e música popular. Atualmente dirige o projeto Impromptu.br, integra o projeto Tabacaria e o duo Cello e Rio, uma parceria com João Mendes Rio.
Paisagem Sonora Curitibana - Feira do Largo (2023), de Fabio Cadore
Duração: 07'12"
Composição musical realizada a partir do áudio captado pelo autor em uma caminhada pelo Largo da Ordem, em Curitiba. Ele se utiliza de recursos de detecção de transientes do software Ableton Live para criar linhas percussivas a partir dos sons espontâneos da rua. Nenhum instrumento musical foi utilizado, somente edição e adição de efeitos. Fábio Cadore é um percussionista que desenvolve instrumentos de percussão eletroacústicos e músicas em improviso livre, utilizando do aleatório, do acaso e do indeterminado como elementos criativos, somados aos ruídos, silêncios e sons cotidianos que normalmente não percebemos.
WHAT IS HAPPENING NOW - A telepathic-telematic ritual (2023), de Ximena Alarcón, Viv Corringham, Gloria Damijan, Jane Wang
Duração: 36'54"
Este ritual híbrido de escuta telemática-telepática celebrou o 50º aniversário do trabalho seminal de Pauline Oliveros, Sonic Meditations, no Café OTO, em Londres. Composta por Ximena Alarcón, envolveu o público e as artistas Gloria Damjian, percussão (Viena), Jane Wang, violoncelo (Boston) e Viv Corringham, voz e eletrônica (Nova York), na detecção, transmissão e recepção de “o que está acontecendo agora / what is happening now”. Ximena incorporou duas peças de Oliveros, "One Word" e "Sound Word", usando o software de áudio telemático Jacktrip, com apoio de Mike O'Connor, e três alto-falantes no local físico. Masterizada por Gloria Damjian e Mike O’Connor, esta gravação documenta o ritual trazendo a perspectiva sonora dos músicos e a experiência do público. Ximena Alarcón é artista-pesquisadora sonora com interesse nas ressonâncias deixadas entre as migrações geográficas. Tutora certificada Deep Listening®, PhD em Tecnologia e Inovação Musical. Gloria Damijan é compositora, performer, artista visual e toca piano(s) de brinquedo estendido(s), berimbau, percussão e outros objetos. Jane Wang é multi-instrumentista, construtora de instrumentos, artista multimídia. Compõe para dança e teatro. Viv Corringham é vocalista e artista sonora britânica radicada nos EUA, “uma força vital na música improvisada desde o final dos anos 1970” (Corey Mwamba, da BBC Radio 3). Mike O’Connor é coordenador de produção telemática, integrando tecnologias de rede e sistemas para ajudar a ensaiar, atuar e produzir pela Internet.
22h
Fantasma Azul Imaginario (2023), de Ignacio Núñez Oyarzo
Duração: 10'00"
Projeto baseado em um caso real, criado a partir de experimentação de sonoridades. Em março de 2020, foi noticiado o encalhe de um exemplar de baleia-sei nas águas da Terra do Fogo (Patagônia, Chile). O episódio se encerrou sem culpados. O autor da peça, que mora desde sempre na região, leu as notícias, fez pesquisas e construiu o projeto que busca, por meio de vozes e dos espaços marinhos patagônicos, levantar o caso que deixou suspeitas sobre o que realmente aconteceu com esse animal marinho. Ignacio Núñez Oyarzo é licenciado em educação e mestre em artes pela Pontifícia Universidade Católica do Chile. Realiza direção teatral e de vídeo, dramaturgia e roteirização, abordando o universo sonoro e a performance. Interessa-se por temas como território patagônico, violência ambiental, mudanças climáticas e biografia. Trabalha no Dramaustral e no Frontera Glaciar.
Silêncios, assim como as montanhas, serão consumidos pela vida (eventualmente) (2020), de Paulo Dantas
Duração: 20'30"
Inspirada em trabalhos do artista multimídia Thiago Rocha Pitta, a obra une gravações de campo realizadas em residência artística na Fundação Abismo (Petrópolis-RJ) a sons produzidos em estúdio a partir de diversos meios ("no input mixer", reverberadores, geradores de ruído, etc.). Paulo Dantas (Rio de Janeiro, 1081) é músico, artista sonoro, professor e técnico de som. Seus interesses enquanto pesquisador o levaram a colaborar com artistas de diferentes cenas das artes e da música experimental em âmbito nacional e internacional, tanto em processos criativos quanto na realização de atividades técnicas, na publicação de artigos e compilações. Em sua produção artística recente, vem promovendo diálogos entre música, fonografia e design de sons, com o auxílio de diferentes dispositivos de gravação, sintetizadores e outros objetos.
Concrete Victoria (2016), de Vortichez (Charlotte Adams)
Duração: 05'29"
Obra criada a partir de sons gravados em sistemas metroviários de quatro cidades: London Underground, Berlin U-Bahn, metrô de Moscou e subway de Nova York. Sugere semelhanças entre metrópoles, bem como separação, alienação e isolamento, e talvez considere a transcendência do progresso tecnológico e o elemento de violência nos processos industriais. A peça foi apresentada no programa Framework Radio #590, transmitido pela Resonance FM, em Londres. Vortichez, também conhecido como VorticeX, é um projeto eletroacústico da britânica Charlotte Adams, em que a compositora manipula e reconstrói diversas fontes sonoras em mundos sonoros abstratos. Seu trabalho foi lançado em vários selos independentes, interpretado pelo compositor no BEAST FEaST da Universidade de Birmingham e apresentado no Arts & Science Days em Burges, na França.
passagem 2020 2021 réveillon (2020/2021), de Aglaíze Damasceno
Duração: 08'24"
Captação da paisagem sonora de uma virada de ano vivida em um tenso momento causado pela pandemia de Covid-19. A artista multidisciplinar Aglaíze Damasceno pesquisa e realiza projetos em linguagens visuais, cultura musical e artes do som.
listas do livro do travesseiro (2023), de operar nas sombras
Duração: 11'19"
Peça composta por leituras eletroacústicas de listas presentes em O livro do travesseiro, clássico da escritora japonesa Sei Shōnagon (清少納言) que data do século X. Os trechos selecionados foram: 1) quanto a doenças; 2) coisas que têm nomes assustadores; 3) coisas que incitam a imitação; 4) quanto a bois/quanto a cavalos/quanto a gatos; 5) ser um homem respeitável; 6) coisas que fazem palpitar o coração; 7) quanto a insetos; 8) coisas que são desdenhadas. operar nas sombras é um grupo anônimo dedicado a leituras eletroacústicas de listas.
23h
Waiting for a Train / Esperando um Trem (2021), de Bruno Christofoletti Barrenha
Duração: 23'00"
A obra é um dos episódios de Modulations On The Fly, série de ressonâncias em som, arte e filosofia, conduzidos na disciplina de Estudos do Som e Processos Criativos, da Universidade de Artes de Bremen, na Alemanha. O artista sonoro Bruno Christofoletti (Rio Claro, 1996) utiliza técnicas de filmes perdidos (found footage) para combinar e organizar sons. Por meio de bricolagens, cópias e interferência criativa, a peça foi criada inteiramente através de uma variedade de materiais audiovisuais encontrados na internet. Entrelaça referências da cultura sonora e apresenta um espaço-tempo suspenso de uma plataforma ferroviária. O artista trabalha com filme, vídeo, instalação, arte sonora e arte de arquivo. Sua prática se concentra em materiais históricos e found footage, especialmente aqueles que podem ser encontrados na Internet. Entre seus trabalhos mais recentes está o curta-metragem Digital Ashes (Brasil/Alemanha, 2022), desenvolvido como tese de mestrado e incluído no programa bienal Emerging Artists - Contemporary Experimental Films and Video Art from Germany (AG Kurzfilm, German Films).
Improv #18 - (eco/radio/impro)log (2023), de Lucca Totti
Duração: 08'43"
Improvisação envolvendo violão, rádio, um microfone binaural e ambiente. Explora uma noção situacional e ecológica de improvisação, pensada como encontro entre agências heterogêneas inseridas em um ambiente sonoro. Foi concebida tendo o Festival Irradia como disparador da configuração do espaço de improvisação. Lucca Totti (Rio de Janeiro, 1997) é artista sonoro, improvisador e pesquisador. Trabalha com experimentalismos, possibilidades sonoras expandidas da arte sonora e fonografia, e criação contemporânea aberta, tendo obras apresentadas em diversos festivais no Brasil e no exterior. Atualmente é mestrando em Sonologia - Processos Criativos na Universidade de São Paulo (USP).
Cinza (2021), de Thiago Guedes
Duração: 05'44"
Obra que nos transporta para um cenário sonoro instrumental cuidadosamente concebido tendo como ponto de partida a sensação de frio, a solitude e a serenidade, convidando-nos a imergir profundamente em cada som de maneira sensorial. O músico, produtor musical, compositor, arranjador e técnico de gravação e mixagem Thiago Guedes utiliza uma variada paleta de sons, incorporando elementos como o suave murmúrio do pós-chuva e a elegância do piano, enriquecidos pela adição de efeitos de reverse delay. Busca criar uma experiência musical imersiva que permite um mergulho de cabeça nas emoções e paisagens sonoras experimentais. Mestrando em Música pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), atua na composição de trilhas sonoras e desenvolve pesquisa considerando a criação e produção de música instrumental para pessoas surdas.
Cavidades (2023), de Camila Proto
Duração: 15'30"
Exploração do universo cavernoso do corpo humano em sua extensão e alargamento. A peça sugere uma viagem pelas cinco principais cavidades do corpo: torácica, abdominal, pélvica, dorsal e cerebral, através de uma experiência sonora imersiva. O espectador é guiado pelas ambiências sonoras destas cavidades, como em uma meditação ativa, atento à instrução inicial de monitoramento: um microfone ficcional desce pela garganta e capta, ao vivo, estes sons. O convite de atenção feito ao público é o de que o que ouvimos é a amplificação daquilo que ressoa nas cavidades internas de cada um. A aventura por um desconhecido tão íntimo, um abrir-se ao descobrimento das suas ambiências. Camila Proto (Porto Alegre, 1996) é doutoranda em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalha nas fronteiras da ficção, da linguagem e do som, propondo possíveis traduções e escutas do mundo.
24h
EletroAnxiety (2023), de João Arthur Wendpap Autieri Vieira
Duração: 04'34"
Experimento eletroacústico que apresenta um sentido audiovisual, realizado ao longo da disciplina de Eletroacústica e e aprimorado na disciplina de Eletroacústica Mista, na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). São exploradas as temáticas da depressão, da ansiedade e da paranóia, por meio de paisagens sonoras, narrativas, "personagens" e quatro cenários sonoros distintos. A obra é totalmente sintetizada em plugins de um Minimoog e Prophet V, acompanhados de samples de uma Drum Machine Roland CR-78 e gravações de voz. Os vídeos citados durante a peça consistem em fragmentos dos trabalhos audiovisuais a seguir, disponíveis na internet: Radiohead, Man of War - End of Evangelion; Thom Yorke - Last I Heard (…He Was Circling The Drain); The Smile – The Smoke; performance "Transfiguration" de Olivier de Sagazan. João Arthur Wendpap Autieri Vieira tem 21 anos e é graduando do curso de Música da UNILA. Sua ênfase é criação musical, aproximando-se da eletroacústica.
Seeds (2023), de Ricardo Thomasi
Duração: 07'33"
Obra baseada em gravações de uma performance com ecossistemas audíveis e piano acústico, posteriormente modeladas em meio digital. A natureza de processamento de dados e as fragilidades do áudio como espaço criativo foram incorporadas à peça. Assim, tratam-se de dois momentos de criação justapostos que utilizam o ambiente de suporte como o próprio meio de modelagem (primeiro, o acústico; depois, o digital). O título refere-se à ideia de eventos (notas no piano, no primeiro, e diferenças de fase, no segundo) que funcionam como sementes germinando em ressonâncias acústicas ou ruídos digitais. Diferencia-se da estética comum de obras acusmáticas, pois o caráter formativo dos aspectos sonoros advém da dissipação de energia em um dado meio. Isso revela formas implícitas do modo como os espaços são habitados pelos objetos físicos e digitais e faz a obra se diferenciar da síntese sonora tradicional, construída a partir de formas externas ou pré-concebidas. Ricardo Thomasi é pesquisador na área de música e tecnologias do CNPq e da Escola de Comunicações e Artes (ECA/USP), professor do curso de música e teatro da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e artista sonoro fascinado por ressonâncias acústicas e filtros digitais. É gestor do selo de música experimental Arte Estranha e integra o grupo Núcleo Música Nova.
motivo e revertério em peças de bateria solta (2017/2023), de Ícaro Tavares
Duração: 06'45"
Peça gravada em 2017 e (mal) editada em 2023. O processo iniciou-se tomando a faixa de pulso mais constante em função de sua própria melodia, como em uma canção, entoada por um prato de condução rachado de uma bateria enferrujada. Todas são do prato de condução, a partir das manipulações mais diversas: na base, tocado com a baqueta que aciona o bumbo; no "sopro", com uma baqueta de madeira raspando o prato; no bumbo/gongo, tocado de ponta-cabeça sobre um surdo de bateria, enquanto gira a cada ataque. O dedo indicador abafa harmônicos em diferentes pontos do raio do prato e é criada uma melodia; o microfone se move ao final do trecho de pulso uniforme, movendo o gravador ao final da base percussiva. A intenção foi não alterar os gestos em maior medida, mas seguindo o caminho que cada som ou gesto sugeria ao longo da edição. Ícaro Tavares é um músico interessado em pesquisa e criação de uma música experimental e eletroacústica que não esteja separada das outras artes de realizar sons. É mestre em artes pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e atualmente, aos 35 anos, é estudante de Música na Universidade Estadual do Ceará (UECE).
Andromeda - Matrix of Power (2023), de Danilo Pacheco Vieira Silva
Duração: 14'22"
Faixa do álbum conceitual sobre as relações entre a realidade e o mundo dos sonhos. Aborda a forma como conhecemos a vida, a partir das criações humanas, e questiona o que seriam as criações não-humanas, tema recorrente quando se trata de matrix. Danilo Pacheco é multi-instrumentista, compositor e produtor dos discos Matrix of Power e Futurism, ambos de 2023. É formado em Música/Licenciatura pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
Tudo que existe de grave vem de dentro das coisas (2023), de GEXS, Gabriela Nobre e José Eduardo Costa Silva
Duração: 18'32"
Desenvolvida ao longo de cinco meses, entre novembro de 2022 e abril de 2023. A criação partiu, inicialmente, de exercícios de improvisação coletiva do Grupo de Experimentação Sonora (GEXS), e foi se consolidando como uma construção formal baseada na assimilação de materiais propostos encontro-a-encontro. A partir da proposição de um excerto do poema Confidências (1913), de Manuel Bandeira (1886-1968), toda a composição passou a se desenvolver em torno da sua manipulação. O grupo convidou a artista sonora e poeta Gabriela Nobre e o compositor e instrumentista José Eduardo Costa Silva para participarem como compositores e performers. O título é parte de um dos versos do poema de Gabriela Nobre para esta obra. Esta gravação foi realizada ao vivo no estúdio do curso de Música da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), durante o evento Onda Sonora, realizado em Vitória, Espírito Santo, Brasil. O GEXS destina-se ao estudo e performance de música experimental, artes sonoras e sound design, sendo formado por Cláudia Zanetti, Luana Brito, Matheus Alves, Zilok, Vitor Collodetti, Nana Guedes, Anna Golino e Marcus Neves. Gabriela Nobre é artista sonora e poeta, nascida no Rio de Janeiro. A partir de seu projeto solo, b-Aluria, investiga as relações entre som e palavra. É curadora do selo independente Música Insólita. José Eduardo Costa Silva é compositor e instrumentista especializado em instrumentos de cordas antigos. Atualmente, é professor do curso de Música da UFES, onde pesquisa criação musical, filosofia e performatividade intertextual.
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